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Oportunidade

Com diploma, mas sem emprego na área

Mesmo com curso superior jovens tem dificuldades de entrar no mercado de trabalho

Exercer a profissão logo ao sair da faculdade não é tarefa fácil. Engana-se quem acredita que ter um diploma é o diferencial no mercado de trabalho. Hoje ele é requisito básico para qualquer posto a ser ocupado, e não basta para garantir a vaga no tão sonhado emprego.

Concluir um curso atualmente não passa de uma obrigação já que o mercado está cada vez mais competitivo. Além do diploma, ainda é necessário investir em cursos de língua, pós graduação e conhecimentos complementares. Independente da área de atuação escolhida ou do curso superior de formação, a falta de experiência é um fator determinante. Dados do Ministério da Educação mostram que todo ano mais de 700 mil profissionais entram no mercado de trabalho. Mas nem sempre há vagas suficientes.

REALIDADE

Formada há oito anos, Veruska Queiroz Navarro, 26 anos, trabalha atualmente como secretária em um escritório de advocacia, mas cursou Administração com Ênfase em Agronegócio. A jovem explica que não fez o curso que queria.

Começou a estudar porque estava parada e queria ter uma formação. “Na verdade eu não fiz o curso que queria. Meu objetivo era passar na Universidade Federal, no curso de enfermagem. Quando comecei administração eu pensava que encontraria mercado, cheguei a fazer cursos também no Senai, mas nada ajudou. Na época enviei currículos para bancos, mas nunca tive retorno”, contou.

Atuando como secretária Veruska diz que se sente satisfeita, mas que não quer continuar por muito tempo nesta área. “Eu nunca deixei de prestar concursos. Este ano vou prestar novamente vestibular para o curso de enfermagem. Entrei no escritório para fazer um bico e estou aqui até hoje. Não sei se me acomodei, a única certeza é que me vejo como profissional na área da saúde. Gosto de ajudar as pessoas, suporto ver sangue, tenho paciência. Daqui há um tempo serei uma ótima enfermeira”.

Já o turismólogo Anderson Aguirre, que atua como gerente administrativo, formado há quatro anos ele teve a oportunidade de seguir a carreira, mas considerou o salário baixo. “Durante a faculdade eu não tinha noção do piso salarial. Eu fiz seis meses de estágio em um hotel na cidade, no final do período fui convidado a trabalhar, mas desisti pelo baixo salário”.

Aguirre comentou que Três Lagoas ainda não faz investimentos na área, e que não seria fácil viver com o salário oferecido pelo mercado. “Quando eu comecei o curso era o que eu realmente queria. A cidade estava em expansão e o comentário era de um mercado promissor, mas a realidade é que a cidade não tem suporte, não tem infraestrutura e não recebe incentivo. Eu desisti do turismo”.

Atualmente ele cursa Administração. “Meu objetivo agora é me formar e trabalhar melhor na área, como já atuo vou somar conhecimentos e minhas pretensões são de atuar em uma empresa de grande porte”.

Questão de atitude

“Não é a experiência que está contando. Agora é uma questão de atitude”. De acordo com a psicóloga, Danielle Capelari Tavares, este é o requisito básico para quem quer conquistar uma vaga no mercado de trabalho. Ela enfatiza que hoje o mercado não consegue absorver a quantidade de profissionais que saem das universidades. “Hoje as pessoas têm conhecimento técnico, mas falta preparação comportamental, por isso muitas empresas pedem a avaliação psicológica, que nada mais é do que a aplicação de uma dinâmica.

Segundo ela hoje o comportamento conta muito. “Nós viemos de uma cultura voltada ao comércio e a agropecuária. Os empresários que chegam aqui têm uma outra postura. Hoje a pessoa para conquistar seu espaço precisa ser dinâmica. Geralmente a dificuldade existe porque ela não consegue se vender,  não tem uma habilidade para fazer um marketing pessoal”.

A psicóloga explica que alguns profissionais são desclassificados pelo mercado apenas pelo comportamento, outros ainda saem de cena por não tem persistência. “Tem pessoas que desistem na primeira, segunda tentativa. Quem quer mesmo atuar na área precisa ser persistente, se não há uma possibilidade, que seja trabalhando voluntáriamente. O importante é estar no mercado, correr atrás, afinal de contas, quem não é visto, não é lembrado”.

Hoje em Três Lagoas muitas vagas ainda precisam ser preenchidas, mas a falta de profissionais qualificados emperra a questão. “É uma soma, um conjunto de fatores. Se a pessoa monta um restaurante em Três Lagoas, dificilmente vai encontrar garçons qualificados, pois apenas uma empresa investiu na qualificação destes profissionais. No caso de uma indústria, tivemos que solicitar profissionais de fora, como Castilho, Andradina e Ilha Solteira, pois o requisito básico era ter Ensino Fundamental e a cidade não disponibilizava mão de obra suficiente”.

Danielle diz ainda que muitas pessoas falam que estão desempregadas, a procura de qualquer serviço, mas são poucas as que se dispõe em trabalhar em cargos como limpeza. “Aqui na nossa empresa não fazemos mais esse tipo de seleção, pois não há público. Geralmente as pessoas querem funções melhores, mas não tem qualificação”.