Veículos de Comunicação

Oportunidade

De embalagens descartes viram produtos de moda

Objetivo da “Eco Linhas” é capacitação a detentas do semiaberto e aberto de Camp

O Brasil é o terceiro maior produtor de lixo no mundo. São 200 mil toneladas produzidas diariamente e só 3% disso é reciclado. Mas o que é um problema para todos, pode se transformar em oportunidade, com resíduo gerando renda e autoestima ao mesmo tempo em que auxilia o planeta.

Com esse objetivo, o negócio social “Eco Linhas” levou capacitação a detentas do Estabelecimento Penal Feminino de Regimes Semiaberto e Aberto de Campo Grande, utilizando o artesanato como ferramenta sustentável de resgate e fonte de recursos financeiros para mulheres em situação prisional e egressas.

A qualificação foi ministrada pela designer e artesã Isabel D. Muxfeldt, idealizadora do Eco Linhas e startup de Negócio Social do Sebrae/MS. “Utilizamos o design para ‘ressignificar’ resíduos descartados dos supermercados e lavanderias, como embalagens de cebola, batata, laranja e limão, big bags de açúcar, jeans e equipamentos de EPIs”, explica a designer, citando o Fort Atacadista da Cel. Antonino e a Lavanderia Industria Lav Star, como parceiros nas doações.

A partir destes materiais são criados produtos de moda e utilitários como bolsas, ecobags, lixinhos de carro, saquinhos organizadores, embalagens, além de brindes corporativos como crachás, sacolas para congresso, entre outros.

A iniciativa, enfatiza Isabel, atende aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), produzindo trabalho digno e crescimento econômico; redução das desigualdades, além de produção e consumo responsáveis.

“Foi muito proveitoso para nós, foi uma forma de ocupar nosso tempo e a mente com atividades prazerosas e que qualificam para o trabalho, além do fator ambiental”, destaca a reeducanda Consilha Tominatti Miranda, uma das quatro capacitadas.

Durante o curso, as participantes aprenderam a utilizar técnicas artesanais como o crochê, estamparia artesanal, costura, tingimentos, que servem de base para a confecção dos produtos com os resíduos reaproveitados.

“No caso do crochê, os detalhes como flores são feitos com o próprio fio das embalagens como a batata que é um fio branco onde se tem a impressão de ser um fio perolizado, e que tingido se torna um fio prata belíssimo”, detalha a instrutora. “No caso das Ecobags utilizamos a embalagem de cebola ou big bags de açúcar”, complementa.

A produção realizada durante o curso teve como inspiração Ipês, com marcadores de páginas confeccionados com lona de caminhão; flores de embalagem de laranja reaproveitada, e lixinhos de carro confeccionados em embalagem de cebola com detalhe em lona de caminhão e estamparia artesanal. As peças foram comercializadas durante a Feira Artesão Livre “Especial de Natal”, realizada pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), no Fórum de Campo Grande, entre os dias 3 e 5 deste mês.

Núcleo Produtivo

Após a capacitação das internas, segundo a artesã, a intenção é que seja uma atividade contínua com a criação de um núcleo produtivo na unidade penal, a exemplo do que já existe no Bairro Jardim Noroeste, em atendimento a mulheres da região, que vem gerando renda e autoestima a elas.

“Para o curso, instalamos duas máquinas de costura industrial, que serão utilizadas neste polo do presídio”, informa Isabel, pontuando que as máquinas foram disponibilizadas em parceria com o SINDIVEST/MS, Senai e Sebrae, além do projeto receber consultoria do Centro Tecnológico do Vestuário do Senai, para melhoria dos processos produtivos e criação de novos produtos.

De acordo com a diretora do semiaberto feminino, Cleide Nascimento, o curso foi intermediado pelas Divisões do Trabalho e da Educação da Agepen e foram necessárias adequações para sua realização. “Mas, desde o momento em que entramos em contato com a artesã, mesmo com as dificuldades, ela se mostrou bastante disposta em nos ajudar. E essa capacitação com certeza está fazendo muita diferença”, agradece.

Conforme a dirigente, a intenção é que os materiais produzidos sejam comercializados em outros espaços. “Além de qualificá-las, representará uma fonte de renda ainda aqui na unidade e isso é muito importante”, finaliza. (Com informações da Agepen)