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Municípios cobram dívida social da CESP

A prefeita Simone Tebet calcula em algums milhões de reais investimento que estatal terá que fazer

 

 

 

“Nós somos tratados como bichos. A Cesp promete, promete, promete e não cumpre. Tem pescador passando fome. Não há um local certo para pescar, não há diferenciação de lago e rio. Precisamos de ponto para pescar, mas ninguém resolve nada. A Cesp vem falar em preservação, mas é ela a principal causadora do impacto ambiental. Nossos peixes estão sendo encontrados com alto índice de metal e chumbo, e nada é resolvido”.  Essa foi a afirmação de Maria Antônia Poliano, representante da bacia do Rio Paraná, de Fátima do Sul.
 
Depoimentos como estes puderam ser ouvidos durante a audiência pública para tratar dos impactos ambientais causados pelas construções das usinas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira. Pescadores, oleiros e comunidade compareceram na tarde de ontem no plenário da Câmara Municipal para reivindicarem seus direitos junto ao Ministério Público e a Comissão Especial da Assembléia Legislativa. O descaso com os trabalhadores por parte da Companhia Elétrica de São Paulo foi marcado em cada depoimento que enfatizava várias promessas não cumpridas. Em anos de luta e espera muitos deles colocam o maior problema em discussão, a falta de recursos para trabalhar. Sem espaço definido, sem matéria prima e sem instruções as populações da região do bolsão sofrem com a realidade. Nove municípios continuam sendo prejudicados com os impactos causados por estas usinas, como é o caso de Três Lagoas, Santa Rita do Pardo, Anaurilândia, Brasilândia e Bataguassu; Selvíria, Aparecida do Taboado, Batayporã e Paranaíba.
 
LUTA
 
Com objetivo de atender as reivindicações e cobrar providências da companhia, no que tangem as questões ambientais, sociais e econômicas o deputado estadual Akira Otsubo enfatizou que também é preciso calcular todos os prejuízos causados com a inundação. “Há anos estou nessa luta. Queremos muito mais que a reposição das matas ciliares, buscamos dignidade para os trabalhadores”.
 
Presente no encontro, o procurados geral da justiça, Miguel Vieira da Silva, mencionou que o problema não está apenas no que foi perdido com o alagamento, mas que a partir desta ação muitas vidas foram transformadas. 
 
UNIÃO
 
Para o promotor de justiça de Bataguassu, Edvaldo Goulart Quirino, é preciso uma coordenação para se manter uma unidade de pensamento na luta contra a companhia. “A equipe construída é sólida. A Cesp disse que ia fazer muita coisa que não foi feita e é por isso que estamos reunidos aqui, para cobrar o compromisso firmado. Nessa luta vamos envolver estratégia. Temos mais de 25 medidas judiciais sendo propostas. Esta é a primeira de uma série de outras reuniões públicas, pois não existe direito assegurado de poluir”.
 
Entre as reclamações e cobranças uma fala do deputado estadual, Amarildo Cruz (PT), chamou atenção pela comparação. “Por mais que a Cesp pague uma indenização, ela nunca irá conseguir pagar pelo impacto ambiental causado. Uma cidade com o porte de Três Lagoas precisa ter um povo que protagonize a história. Por isso é necessário buscar as compensações do dano ambiental que foi causado”.
 
O presidente da Câmara, Fernando Milan, ressaltou a que o papel da Cesp deve ser cumprido e que o Ministério Público vai cobrar pelo impacto. “O dano é permanente. Por mais limpa que seja a usina, ela causará sempre danos ambientais, pois ocupa terras férteis e mata nossos peixes. O problema é tão grave que eles têm uma psicultura, pois os peixes não sobrevivem por si, mas a quantidade produzida através desta medida não é suficiente para suprir a necessidade”.
 
RESULTADOS
 
A prefeita de Três Lagoas, Simone Tebet, garante que está luta permanecerá. “Não estamos falando em poucos milhões. Isso vai resultar em milhões de reais para os municípios impactados. Faremos o que a comissão julgar necessário para recuperar parte destes danos. Precisamos resgatar a tranquilidade destes pescadores e oleiros, já que a Cesp deixou de compensar as áreas de impacto. Muito ficou para traz e nós estaremos junto ao ministério para reivindicar o que é de direito nosso”.
 
Em suas palavras a prefeita garante que a audiência terá resultado. “A Cesp no deve, e deve muito. Vamos exigir, pois se somos o sexto complexo de energia do mundo, nada mais justo que eles nos indenizarem”.
 
REALIDADE
 
Inconformado com o descaso porque passa há anos, Adilson Cruz, de Bataguassu, disse que esta é uma questão ‘embolada’ e que nem os maiores prejudicados sabem por onde começar. “Eles brincam com a gente. Quando eu morava no Porto XV eu estava em uma área inundada e não condenada. Hoje é o contrário, estou em uma área condenada e não inundada. Eles ficam nos jogando de um lado para outro e nada é feito pelos pescadores”.
 
O presidente da colônia de pescadores do Jupiá, Milton Duarte, falou das promessas feitas pela Cesp. “Eles disseram que iriam fazer readequações para que tivéssemos uma área para pescar, prometeram rampa, banheiros, mas não fizeram nada. Não temos ponto de pesca, nem acesso ao rio. Lá dependemos da boa vontade dos fazendeiros para podermos pescar. Eles também disseram que iriam fazer o controle de algas no rio, mas se nossa rede ficar meia hora lá, ao ser retirada ela sai cheia de lodo e sem nenhum peixe. Ainda posso citar o repovoamento do reservatório, eles até jogam alguma coisa no rio, mas não temos variedades e a quantidade é insuficiente para que a classe dos pescadores sobreviva. Com isso temos que viver de bicos”.
 
O oleiro, Antonio Dias disse que o pior é não ter material para trabalhar. “Eles nos deram uma reserva de oito anos e depois sumiram. Nós precisamos trabalhar e não temos material. Entramos na justiça para pedir mais 22 anos, mas há dois anos estamos sem dinheiro, vivendo de bicos”.
A próxima audiência acontece no dia 9 de julho em Anaurilândia.