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O Poderoso Chefão

A 19ª fase da Operação Lava Jato foi chamada pela Polícia Federal de Nessun Dorma – uma das três árias da ópera Turandot, que Puccini escreveu em 1924. A ária – que certamente a grande maioria das pessoas desconhece – se popularizou nas Olimpíadas de Inverno de 2006 e ficou marcante a interpretação de Luciano Pavarotti. Alguns pensam que a Polícia quis ressaltar o significado: “Ninguém durma”. 

Mas a Polícia Federal não pensa assim tão imediatista. O olhar vai mais além, no objetivo. 

Penso que o título foi escolhido porque a ária também é o tema musical do terceiro filme da série O Poderoso Chefão. É um aviso ao poderoso chefão que vai chegar a sua hora. 

A ária de Puccini termina com a frase “All`alba vinceró! Vinceró. Vinceró”.  Que quer dizer: “Ao romper da aurora vencerei! Vencerei. Vencerei!

Depois dessa longa noite de trevas, em que deveremos nos manter muito acordados, quando romper o sol pondo luz sobre tudo, finalmente venceremos. Foram anos de corrupção, de roubalheira, de engodos, de mentiras, de propaganda enganosa, aproveitando-se da ingenuidade e da desinformação no país que não tem Educação. 

O país afundou, desintegrou-se, nas contas e nos valores. Ficamos reféns e, mais do que isso, escravos de criminosos de todos os níveis, mas houve quem nos acordasse, um certo Roberto Jefferson, também metido na maracutaia, mas um arrependido corajoso. Não precisou de prêmio para colaborar com a Justiça.

Depois vieram os justiceiros legais, da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, da Justiça Federal, que esperam a alvorada chegar, enquanto vão fechando o círculo em torno do mesmo eixo. Para nós e para eles, a madrugada é também muito longa, pesarosa, mas que à hora certa irá acabar.

Prenderam executores como o ex-ministro da casa Civil do governo Lula, José Dirceu, que se envolveram no mensalão e no petrolão, mostrando que ambos os casos são do mesmo processo de expropriação ilícita de dinheiro estatal para um partido financiar sua manutenção no poder, num círculo vicioso. 

Dois tesoureiros desse partido já foram condenados, um pelo mensalão e outro pelo petrolão, confirmando que é tudo parte da mesma operação, que consiste em se apropriar de estatais que alegavam ser do povo.

Agora, quando a madrugada vai terminando, pode alguém imaginar que tudo isso, essas operações entre empreiteiras, partidos, refinarias,  estatais, navios-sonda, contas no exterior e doações com aparência de legais, foram conduzidas sem condutor? Foram autorizadas sem chefe? Foram produto de uma engrenagem espontânea, sem planejamento, sem comando, sem autoridade sobre diretores de estatais corruptos e corrompidos? Seria tudo obra do acaso, como a mãe natureza sobre a origem e o aperfeiçoamento de animais e plantas? Ou haverá um arquiteto, um maestro, um criador, nisso tudo? Um Poderoso Chefão?