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O SILÊNCIO DOS CORDEIROS

Alexandre Garcia

Ouvi, no Bom Dia Brasil, um professor meu xará, tentando justificar as invasões de centros de compras, os chamados rolezinhos: “É uma ação democrática, afirmativa, pela abertura de espaços que são deliberadamente fechados a pretos e pobres.” Um palavrório de moda, mas não traduz a verdade. Nenhum shopping deste país faz triagem para impedir negros e pobres. O que tenho visto é que pedintes e arruaceiros têm sido convidados a se retirar de um lugar que é público, mas de propriedade  privada, pois constrangem os fregueses.

          Muito significativo que a declaração tenha sido feita por um professor, já que muitos deles estão enganando alunos ao falsear verdades históricas do país, movidos por uma fé ideológica doentia. A saudade da fracassada luta de classes tem tentado jogar brasileiros contra brasileiros: negros versus brancos, índios versus agricultores, pobres versus ricos e, recentemente, empregadas domésticas contra patroas, sob o argumento de que a obrigação do uso do uniforme branco traduz um preconceito. Por incrível que pareça, jogam-se mulheres contra homens e  se criam até lados hostis por preferências sexuais. Em outros tempos, éramos todos brasileiros iguais e os preconceituosos tinham vergonha de exprimir em público seus preconceitos.

          Há anos, por algum motivo, também se vem minando a nação ao justificar o criminoso e condenar as vítimas do crime. Até a Constituição passou a dizer que são inimputáveis os menores de idade, ainda que sejam assassinos cruéis. A polícia recomenda que as vítimas não reajam aos bandidos e o governo procura desarmar as pessoas, embora não desarme os bandidos, dando a eles a segurança que falta aos cidadãos. Nesse fim-de-semana, um assaltante armado invadiu uma lanchonete cheia, em Brasília. Um contínuo meu colega atracou-se com o bandido e poderia dominá-lo se tivesse ajuda. Mas todos os assaltados se aproveitaram do ato heróico do jovem que reagiu,  para fugir. O contínuo recebeu dois tiros e está fora de perigo, e o ladrão foi embora sem roubar ninguém.

          Foi a  covardia coletiva de um  bando de fujões que abandonam o salvador, condicionados a não reagir e aceitar passivamente o crime, que tornou bem atual o poema de Eduardo Alves da Costa, em homenagem a Maiakovski: “Na primeira noite eles se aproximam / roubam uma flor / do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada./ Até que um dia / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo o nosso medo / arranca-nos a voz da garganta./ E já não dizemos nada”.