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Obrigatoriedade de freios ABS favorece novas tecnologias

O sistema de freios ABS ? antitravamento de rodas ? foi pioneiro entre as tecnologias eletrônicas de segurança

A obrigatoriedade do sistema de freios ABS no Brasil, anunciada pelo governo no início do mês, é vista por engenheiros automotivos e fabricantes de autopeças como o primeiro passo para os carros nacionais se aproximarem dos europeus, no que se refere a sistemas eletrônicos de segurança. Além de preços menores e escala de produção, a lei do Contran que atingirá 100% da produção de carros nacional até 2014, abre espaço para a "popularização" de novas tecnologias, seja por obrigatoriedade, ou não.

“O Brasil começou agora, a lei foi o primeiro passo, mas o que acontece fora acontecerá aqui. Teremos nos carros sistemas de câmera com visão noturna, radar, entre outros, que dependem de estruturas eletrônicas”, afirma o gerente de marketing da divisão Chassis Systems Control da Robert Bosch do Brasil, Carlo Gibran.

O sistema de freios ABS — antitravamento de rodas — foi pioneiro entre as tecnologias eletrônicas de segurança. A partir dele, foi feita a integração com o motor dos carros e, assim, surgiu o controle de tração. Depois veio o programa eletrônico de estabilidade (ESP), o passo mais avançado de segurança ativa. “A partir de 2012 passa a vigorar uma lei na Europa que obriga a produção de veículos com o ESP”, comenta Gibran.

 

Novas tecnologias

Para a Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), a lei foi muito bem recebida por ser muito importante, entretanto, o diretor do Colloquium Internacional de Freios da entidade, Dácio Paul, considera a obrigatoriedade ainda um “passo pequeno”. Segundo ele, é preciso a atualização das normas e novas regulamentações para se alcançar um alto nível de segurança.

 

Mas Paul também acredita que a lei abrirá espaço para a obrigatoriedade de outras tecnologias para ser acopladas no ABS, além de forçar a melhora da capacitação profissional nas oficinas. “Não adianta nada ter ABS e quando acende no painel a lâmpada com aviso de falha no sistema, a pessoa leva na oficina não especializada e o mecânico simplesmente apaga a lâmpada”, ilustra Dácio Paul.

Esse é um dos temas que entrarão nos debates do colloquium sobre freios, organizado pela SAE Brasil em Gramado (RS) de 6 a 8 de maio. No evento também serão mostradas as mais modernas inovações em relação à frenagem de veículos, que migram do automobilismo. Entre os produtos desenvolvidos estão o sistema de freio regenerativo usado na Fórmula 1, chamado de “kers”. “Ele permite que o sistema absorva energia na frenagem e reconverta em energia de propulsão pro carro”, explica Paul. Outro avanço são os sistemas de freio para veículos híbridos e elétricos, de atuação elétrica.

 

Atraso brasileiro

O que até agora inibiu a popularização da tecnologia ABS foi o preço, a falta de legislação específica e a cultura no país. O item de segurança mais básico de um carro, o cinto de segurança, até hoje enfrenta resistência, especialmente dos passageiros que sentam no banco de trás. “Aos poucos o brasileiro muda, mas é lento esse processo”, observa Dácio Paul.

 

No Brasil, apenas 15% dos veículos produzidos localmente vêm equipados com o sistema. O atraso é significativo ao comparar com dados mundiais e, até mesmo, chineses. De acordo com Carlo Gibran, da Bosch, o ABS já faz parte de 76% da produção de veículos do mundo. Somente na China, o índice é de 70%.

 

Com a obrigatoriedade, o ganho de escala poderá reduzir os preços entre 20% e até 50%. Atualmente, o produto como opcional pode ser encontrado por cerca de R$ 1,5 mil, mas chega a custar R$ 3 mil dependendo do modelo.

 

A lei também abre o mercado para multinacionais investirem na produção do sistema no país — hoje, apenas a Bosch fabrica sistemas ABS “brasileiros”. “A concorrência aumentará, sem dúvida. Com o aumento da escala, a Bosch terá de ampliar a produção e contratar mais funcionários”, diz Gibran. Assim, a concorrência na produção local ajudará a diminuir preços.