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                                                                               Alexandre Garcia

          O Anuário recém divulgado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, confirma a matança nacional: 50.108 homicídios dolosos no ano passado – 137 por dia. A Itália, que tem a Máfia, somou 594 homicídios dolosos no país inteiro, no mesmo período. A Síria, que tem guerra civil, registrou 41 mil mortes no mesmo período. Aqui no Brasil os homicídios equivalem à queda de um Boeing 737 por dia, todos os dias. No entanto, convivemos com a ausência de segurança; ou nos acostumamos ou pensamos que vida de brasileiro nada vale. No aeroporto de Los Angeles, sábado, tiros mataram um americano. Foi notícia. Os mais de 150 homicídios de brasileiros no mesmo dia(sábado é campeão) nem apareceram nos noticiários.

          Os políticos também estão longe da tragédia nacional. Cuidam das eleições do ano que vem. A Ministra dos Direitos Humanos cuida do bandido morto por um policial. As autoridades cuidam do marketing que possa aumentar      as chances de reeleição da presidente. Boa parte de nós, brasileiros, está cuidando de torcer para o seu time de futebol. Se estão matando todos os dias, não é problema nosso. É lá no Brasil. Aliás, o escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro, escreveu domingo nos dois mais importantes jornais do país que “Esse negócio de falar no Brasil é coisa do passado. E pensei e vi que não tem mais Brasil; a gente acha que tem porque se viciou, mas não tem mais.”

        Vale a pena reproduzir o que ele escreveu: “Não tem essa besteira de Brasil-Brasil-Brasil, isso é coisa para os iludidos de minha marca, que agora estão abrindo os olhos. Agora tem o Brasil das mulheres e o Brasil dos homens até nos discursos das autoridades, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos e o Brasil dos pardos, o Brasil dos héteros e o Brasil dos gays, o Brasil dos evangélicos e o Brasil dos católicos, Brasil com bolsa família e Brasil sem bolsa família e nem sei mais quantas categorias, tudo dividido direitinho e entremeado de animosidades; todo mundo agora dispõe de várias categorias para odiar! A depender do caso, o sujeito está mais para uma delas do que para essa conversa de Brasil – esquece esse negócio de Brasil, não tem mais nada disso! 

          A escritora Lya Luft escreveu na Veja desta semana que o país está doente; que nós perdemos nosso direito de ir e vir e pergunta o que há com nossas leis. Ela também percebeu que a polícia parece contida. Até nosso direito de nos defendermos, em casos extremos, é reprimido pelo tal “desarmamento”- de que estão isentos os bandidos. Aliás, bandidos parecem ser os queridinhos de alguns dos meus coleguinhas, de muitas entidades e autoridades. Não sei como Freud explicaria essa preferência por quem preferiu viver fora da lei. Mas, enfim, a consequência aí está, nos 50 mil homicídios/ano.