Veículos de Comunicação

Alerta

Pantanal perdeu área alagável e mais da metade dele já queimou nos últimos 30 anos

Uso do bioma pelo homem aumentou 261% entre 1985 e 2020 e 93% do fogo ocorreu em vegetação nativa

Foto: Área do Pantanal próxima a Corumbá - Foto: Viviane Amorim/Divulgação
Foto: Área do Pantanal próxima a Corumbá - Foto: Viviane Amorim/Divulgação

O Pantanal está mais seco nos últimos 30 anos, o que tem contribuído para que o fogo no bioma torne-se mais intenso e rotineiro. No período de 1988/1989 a 2018, 29% de área que costumava ficar alagada deixou de ter cobertura da água. A partir da análise de imagens de satélite foi possível constatar que de 5,9 milhões de hectares de área alagada, em 2018 esse número caiu para 4,1 milhões de hectares. Ano passado, quando houve recorde nas queimadas, a área alagável foi de 1,5 milhão, menor número registrado em 36 anos de avaliação.

Todos esses dados foram identificados pelo MapBioma, grupo de pesquisadores que faz análise dos diferentes biomas brasileiros. O estudo, que envolveu cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), foi apresentado nesta quarta-feira (29), durante evento online.

"Mais seco, o Pantanal está também mais suscetível ao fogo. Os períodos úmidos favorecem o desenvolvimento de plantas herbáceas, arbustivas, aquáticas e semi-aquáticas, acumulando biomassa. No período seco, a vegetação seca vira combustível para o fogo. De todos os biomas brasileiros, o Pantanal foi o que mais queimou nos últimos 36 anos: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma vez no período, ou 86.403 km²", identifica a pesquisa.

As constatações também servem para alertar autoridades sobre o perigo que o Pantanal corre de sofrer impactos irreversíveis e a urgência de políticas para preservação e uso sustentável.

Áreas de vegetação campestre e savanas foram as mais afetadas, respondendo por mais de 75% das áreas queimadas. Ao todo, 93% do fogo no período ocorreu em vegetação nativa; apenas 7% ocorreu em área antrópica.

Em 2020 foram mais de 2,3 milhões de hectares queimados, desde 1985 esse valor só é menor do que a área queimada de 1999, com 2,5 milhões de hectares. “A conservação do Pantanal, sua cultura e seu uso tradicional dependem dos ciclos de inundações e dos rios que nascem na região do Planalto, onde ficam as cabeceiras da Bacia do Alto Paraguai”, explica Eduardo Rosa, do MapBiomas.

O trabalho científico observou que 83,8% da planície estava coberta por vegetação nativa em 2020. No planalto, isso ocorreu em apenas 43,4% do território. Com pastagens degradadas, falta de florestas que protegem nascentes e rios, além da construção de hidrelétricas causam um efeito direto sobre o fluxo dos rios, que também sofrem com a deposição de sedimentos que reduzem a vazão da água, no planalto e na planície. Isso, por exemplo, é registrado com forte intensidade no Rio Taquari, que representa 16% do volume de água que abastece o Pantanal.

“O uso antrópico no Pantanal cresceu 261% entre 1985 e 2020, ganhando 1,8 milhão de hectares. Nesse período, a área de pastagens na Bacia do Alto Paraguai dobrou, de 15,9% em 1985 para 30,9% em 2020.  A agricultura, por sua vez, quadruplicou, passando de 1,2% em 1985 para 4,9% em 2020. Já a formação savânica caiu de 24,4% em 1985, para 18% em 2020. Em 2020, 40% da Bacia do Alto Paraguai possui uso agropecuário”, aponta o estudo.

A pesquisadora em Ecologia da UFMS Letícia Garcia, que participou dos estudos, sugere que é possível o uso do Pantanal para a produção pecuária, porém é preciso o incentivo da utilização sustentável desse bioma.

“A gente está perdendo uma diversidade 300 espéceis de gramíneas, 200 espécies de forrageiras para uma monocultura de poucas espécieis. O que a gente tem que incentivar no Pantanal é a criação de incentivos para que os produtores sejam sustentáveis por meio de selos orgânicos, isenção de impostos. A gente tem um bioma de tanta diversidade e pode ser usado de forma sustentável”, afirma.