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Três Lagoas

Violência contra mulher registra números alarmantes

Em 2019, 1.065 boletins de ocorrências foram registrados na DEAM

O mês de março é marcada por manifestações, por eventos, e comemorações alusivas ao Dia Internacional da Mulher- 8 de março. Em que pese tantas conquistas, e avanços no decorrer dos anos, será que há motivos para comemoração, diante de tamanha violência contra as mulheres?

Segundo o Atlas da Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve um aumento de 30,7% no número de feminicídios no Brasil entre 2007 e 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas em 2019, o maior número registrado desde 2007.

“Penso que não há razão para comemorar, pois a violência ainda é muito grande e, embora a legislação tenha avançado ao longo dos anos, sua aplicação é falha, e as políticas públicas, ineficientes ou inexistentes…Por exemplo, o governo federal não destinou nenhum dinheiro para a Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande, no ano passado. É muita campanha (propaganda) e pouca ação”. A opinião é da delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), de Três Lagoas, Letícia Mobis. 

Três Lagoas faz parte das estatísticas tristes de violência contra a mulher.  Em média, quatro mulheres são agredidas por dia na cidade. Três Lagoas é uma das cidades com maiores índices de violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul. Em 2019, a Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) registrou 1.065 boletins de ocorrências. Em janeiro deste ano foram 127 registros, em fevereiro, 92.

Em 2019, o Poder Judiciário de Três Lagoas recebeu 630 pedidos de medida protetiva de urgência- ferramenta prevista em lei para proteger mulheres vítimas de violência doméstica e familiar,  com base a Lei Maria da Penha. Nos dois primeiros meses deste ano, já houve 112 pedidos.  Segundo a delegada, a maioria dos pedidos é aceito pelos juízes. 

A medida protetiva é solicita pela delegacia, após registro do boletim de ocorrência. Com a medida, a Justiça determina que o agressor mantenha uma distância mínima da mulher, dos familiares, e proíbe qualquer tipo de contato, por exemplo, pelo telefone. “Se não fazer a denúncia, pode aumentar a violência e até chegar a um feminicídio. Existem muitas condenações, é que isso quase não é divulgado”, frisou.

Ainda de acordo com a delegada, o número de violência doméstica poderia ser maior. “Na verdade, a gente não diz que esses números são negativos, pois as mulheres que tem coragem de denunciar são poucas. Há muito mais violência do que os números mostram. Ainda tem muita mulher que tem medo, tem vergonha de denunciar”, destacou.  A delegada frisou que as mulheres precisam dar um basta desde a violência verbal. “Já registre um boletim, desde a primeira ameaça, xingamento… Preste atenção na reação dessa pessoa para ver se o relacionamento vale a pena, deve ser mantido”, orientou.