Um amigo meu vai todo ano à praia com a família num Fiat 147. E ele conta feliz as peripécias da viagem. “Nas férias, a gente descansa e faz planos para o futuro”, argumenta.
Lembrei-me das aventuras deste amigo ao ver as fotos das últimas férias do Zé Dirceu em Itacaré, na Bahia, com muita badalação e mordomia. Aí fiquei pensando: enquanto o primeiro já faz a sacrificada poupança para ir ao litoral, o ex-ministro tem cada vez mais certeza de que vai demorar um bom tempo para usufruir dessa curtição.
Evidentemente que o ex-ministro conhece as melhores praias do país, inclusive as privativas do seletivo público dos “resorts”. Também é notório que ele já percorreu dezenas de países do Primeiro Mundo e tem intimidade com ambientes luxuosos, frequentados por poderosos e famosos.
Mas tudo isso é passado, não conta e não volta!
Hoje aos 69 anos de idade, Zé Dirceu vive a experiência de ser pai de uma menina de 5 anos que, segundo dizem, seria sua grande paixão. Não é difícil imaginar os momentos agradáveis, mágicos da relação entre pai e filhos. É algo gratificante, abençoado mesmo.
E ainda, levando-se em conta o amadurecimento natural dele como pai, essa experiência deve estar acima dos seus projetos políticos inclusive.
Pois é! Se aquele amigo meu do Fiat 147 pode programar sua ida à Itapema, Zé Dirceu vive outra realidade e tem perspectivas diferentes. Presumo que desde a fase de felicidade plena em que vivia – antes da prisão, condenado no processo do Mensalão, Zé Dirceu deveria ter em mente proporcionar à filha férias espetaculares, inclusive uma viagem de princesa à Disney, em Orlando, Estados Unidos. Por que não? É o velho e natural sonho de consumo do brasileiro.
Mas as últimas fotografias do ex-chefe da Casa Civil do governo Lula mostram um cidadão visivelmente abatido. Parte pelo vexame a que foi exposto pelos meios de comunicação e parte, talvez ,pelo fim do convívio diário e gratificante com aquela criança, sua grande paixão.
Ele tem consciência dos riscos que corre de uma condenação que o leve a um longo afastamento da família.
Zé Dirceu foi corajoso e ousado no passado, peitando todo um sistema. Mas, na prisão, suas prioridades seriam simples.
Trocaria, por exemplo, o sucesso de ontem pela paz do brasileiro que viaja 1000 quilômetros num Fiat velho e desconfortável para brincar com os filhos na praia. Nada mais!
O tic-tac do implacável relógio está contra Zé Dirceu.
E a viagem à Disney terá que esperar.
De leve…