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Pessoas com doenças do sangue sofrem com atendimento precário e no acesso a medicamentos

Outra área problemática no Brasil, de acordo com a ABHH, é a dos linfomas, um grupo complexo que inclui mais de 60 tipos de doenças

Os brasileiros com algum tipo de doença do sangue – como hemofilia, anemia falciforme e linfoma – enfrentam problemas que vão além da enfermidade, como o difícil acesso a medicamentos de alta qualidade e o despreparo de médicos no atendimento primário. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), Carmino Antônio de Souza.

No primeiro dia do Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia (Hemo 2010), ele afirmou que o paciente mais maltratado no país é o portador de leucemia aguda. “Ninguém quer tratar ele”, denunciou. Segundo Souza, o tratamento é longo e muito caro e o ressarcimento feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos profissionais é irrisório. “É uma área em que o conhecimento técnico no Brasil é muito bom, mas a condição de tratamento é muito ruim”, disse.

Outra área problemática no Brasil, de acordo com a ABHH, é a dos linfomas, um grupo complexo que inclui mais de 60 tipos de doenças. Souza explicou que já existem medicamentos avançados para o tratamento. Mas o remédio, apesar de licenciado pelo governo, não chega ao paciente.

“O governo reluta e atrasa demais o desenvolvimento [do medicamento] no Brasil. Não há nenhuma perspectiva de que isso mude em um curto espaço de tempo”, afirmou. O caso é o mesmo para portadores de mieloma múltiplo, um tipo de câncer que se desenvolve na medula óssea e que tem se manifestado de forma mais frequente com o envelhecimento da população brasileira. “O tratamento é extremamente defasado em sua qualidade, apesar do conhecimento brasileiro e da disponibilidade de drogas no Brasil”, completou.

Dados da ABHH revelam que cerca de 40% da população mundial apresentam algum tipo de anemia, doença provocada por baixa quantidade de ferro no sangue. O diagnóstico e a orientação deveriam ser feitos no atendimento primário, uma vez que a maioria dos pacientes não precisa procurar um especialista. Mas, segundo Souza, não é isso que ocorre no Brasil.

“Um grande problema que temos ainda está ligado à orientação médica e à eficiência do sistema primário no encaminhamento precoce desses pacientes”, explicou. Alguns doentes demoram anos para serem encaminhados a hematologistas e quando procuram os centros especializados, já estão com a saúde gravemente comprometida.

O Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia (Hemo 2010) ocorre até segunda-feira (8) no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília. O evento é organizado pela ABHH e conta com a presença de conferencistas do Brasil e de países como a Dinamarca, os Estados Unidos, a França, o Uruguai, Canadá, a Alemanha, Itália, Espanha e de Portugal. Serão discutidos temas como anemias, transplante de medula óssea e questões relacionadas a políticas públicas das doenças do sangue.