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Mal Silencioso

240 na conta da automutilação

Adolescentes e jovens escondem o problema dos pais, mas sinais comuns a todos dão pistas do problema e do risco

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O grito é silencioso. Muitas vezes expressado por meio de lâminas, estiletes e até cacos de vidro por adolescentes e jovens para automutilação. Em Três Lagoas, casos assim aumentam a cada ano e têm feito centenas de vítimas. 

A costureira Edna presenciou a situação dentro de casa com uma filha de 14 anos. “Os dois braços estavam cheios de cortes, mutilados, e ela só usava blusa de frio, mesmo no calor, além de passar horas e horas no quarto, sozinha. Fiquei transtornada quando descobri”, relatou. 

A filha dela está na lista dos 240 adolescentes e jovens, entre 12 e 17 anos, que praticaram automutilação no decorrer de um ano, na cidade. O levantamento é do Ambulatório de Saúde Mental, da Rede Pública de Atenção Psicossocial e dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps 1 e 2).

DESPEDIDA
A costureira contou que a filha também havia escrito uma carta de despedida, em que anunciava intenção de suicídio. “Eu desconfiava de muitas coisas, mas como trabalhava fora, quem descobriu a automutilação foi a avó dela depois de ver os cortes nos braços. Ela [filha] tentou esconder e não quis falar do assunto. Eu fui até o quarto e achei a carta em um livro. Minha filha tentou me impedir de ler, tentou rasgar a carta. Eu fiquei revoltada e só queria dar uma surra nela”. 

COMO LIDAR?
Edna ressalta que não sabia como lidar com a situação porque a filha não queria se abrir. Então, decidiu procurar ajuda de um psicólogo e a adolescente, enfim, aceitou o tratamento. “Durou um ano. Ela nunca sorria e nunca ficava alegre. Até hoje não sei o motivo disso. Hoje ela é outra pessoa”, disse. O nome dela foi omitido propositalmente.

Diferente do que muitos acham, adolescentes e jovens com comportamento como a filha da costureira não buscam a dor física pelo prazer de senti-la. O psicólogo Gilmar Lucas da Silva explica que a automutilação é a forma encontrada pela pessoa para sair da condição de sofrimento, em uma troca da dor emocional pela física. “Angústia, ansiedade, não saber lidar com diversos sentimentos, são alguns motivos que levam muitos a esse comportamento”, disse o profissional do Ambulatório de Saúde Mental. 

Profissionais fazem parte do Ambulatório de Saúde Mental. (Crédito: Reprodução/TVC)

‘Desestrutura familiar é a principal causa’

Ele explica que a desestrutura familiar é o principal fator da depressão, autolesão e suicídio em adolescentes e jovens. “Temos muitos pais omissos, que não impõem regras e não transferem valores para os filhos. São famílias disfuncionais, que  provocam angústia, ansiedade nos adolescentes, que não são preparados e estruturados para lidar com frustrações, por exemplo. Ficam imaturos e não conseguem lidar com dor ou sofrimento”, avalia. 

O psicólogo cita situações como o abandono, abuso e a violência doméstica como causas para a mudança no comportamento.

Para a psicóloga Maíra Guimarães é importante que os pais fiquem atentos quanto às atitudes dos filhos, como isolamento, tristeza, uso de camisas de manga longa e a falta de diálogo. 

Ela destaca aspectos do cuidado. “O apoio familiar é importante. Ouvir o que eles têm a dizer e dialogar, por mais difícil que pareça, e procurar apoio profissional também. Atividades físicas, práticas de esporte também auxiliam”.

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