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Entrevista

A chegada da varíola dos macacos abre um sinal de alerta, diz secretária de Saúde

Três Lagoas registrou cinco casos da varíola dos macacos e também tem registrado baixa adesão na imunização contra a poliomielite

Entrevista com a Secretária de Municipal de Saúde, Elaine Furio - Reprodução/TVC HD
Entrevista com a Secretária de Municipal de Saúde, Elaine Furio - Reprodução/TVC HD

Três Lagoas registrou, até esta sexta-feira (12), cinco casos  suspeitos davaríola Monkeypox, popularmente conhecida como varíola dos macacos, de acordo com o último boletim sobre a doença da Vigilância Epidemiológica (Vigep). Desses, quatro foram descartados e um positivado de um morador do estado de São Paulo.

Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde tem identificado uma baixa cobertura vacinal, principalmente contra a poliomielite. Esses dois fatores negativos na saúde pública três-lagoense, têm preocupado as autoridades do setor. Para falar sobre as ações para coibir infecções da varíola dos macacos e sobre a vacinação em Três Lagoas, o Jornal do Povo entrevistou a secretária municipal de Saúde do município, Elaine Furio, o comportamento – principalmente dos mais jovens -, têm contribuído para o aparecimento desses infectados pela doença.

Ela também falou que, algo já consolidado e alvo de elogios, que era a adesão natural nas campanhas nacionais de imunização, tem perdido força nos últimos anos e vem apresentando baixos índices, devido à disseminação de notícias falsas sobre os efeitos das vacinas, em geral. Confira abaixo a entrevista completa com Elaine Furio. 

Porque existe essa desconfiança com as vacinas por parte de uma grande parcela da população brasileira? 

Elaine Furio Muita gente acredita em notícias falsas sobre as vacinas, no geral. Elas caem no conto que os imunizantes provocam autismo e que pode até matar. Nós, diariamente, fazemos um apelo a toda população três-lagoense sobre o número baixo de imunização, principalmente de crianças de 0 a 5 anos, que fazem parte do grupo que recebe a vacina contra a poliomielite. Não só nós de Três Lagoas, mas como Mato Grosso e o Brasil, está trabalhando para convencer os pais a levarem seus filhos para tomar o imunizante. É muito triste essa situação, porém estamos lutando para conscientizar cada vez mais a todos sobre a importância dessa adesão. Eu como mãe fico chateada em verificar que outras mães não estão levando seus filhos para vacinar. Eu costumo dizer a pessoa que não leva seu filho para vacinar contra pólio, nunca conviveu com alguém que tenha sequela devido a infecção. Eu por exemplo, tinha uma vizinha e uma amiga que tinham sequelas da doença. Portanto, quem viveu essa situação como eu, não comete esse erro absurdo contra um filho  

Esse estigma contra as vacinas, têm influência com as notícias falsas que lançaram contra os imunizantes contra a Covid-19?

Furio A própria campanha da vacinação contra a Covid-19 mostrou isso. Após a chegada do imunizante e as pessoas obedecendo seu esquema vacinal, as mortes e as infecções graves pela doença diminuíram drasticamente. Porém, apesar desse saldo positivo, as pessoas não estão tomando as doses de reforço, recomendada pelo Ministério da Saúde. Devido a esse fator, é que estamos trabalhando finais de semana, em horário estendido nos postos de saúde de segunda sexta-feira. Todas as nossas unidades estão vacinando até às 19h. Apesar disso, nossos servidores, por muitas vezes, ficam de braços cruzados, pois não está tendo adesão. Todo o esforço está sendo realizado pelos Poderes Públicos municipal, estadual e federal. Por exemplo, hoje não podemos mais pagar essas horas extras em folga, mas sim em dinheiro, mas não deixamos de atender de forma mais ampla, mesmo que isso nos custe mais. Portanto, precisamos que a população faça também a sua parte

Em relação a varíola dos macacos, como Três Lagoas tem enfrentado essa doença?

Furio Nós já estamos com cinco casos suspeitos. Isso abre um alerta para nós que pertencemos a área da saúde. Nós estamos fazendo um trabalho de prevenção e mostrando para os três-lagoenses, como se trata, como prevenir, além de como são os sintomas. Além disso, estamos deixando de falar varíola dos macacos, para falar em relação a infecção, mas sim, Monkeypox, pois a transmissão dela vem através de roedores. Além disso, nós estamos orientando as pessoas evitarem locais com muita aglomeração, assim como na pandemia, pois esse vírus se comporta parecido com o da Covid-19. Por exemplo, a maioria dos casos identificados com o vírus, foram entre jovens que foram a uma festa universitária na semana passada. Eu soube por eles que neste evento havia uma competição de beijo. Esse fator pode ter potencializado as infecções da doença. A principal recomendação do Ministério da Saúde é evitar múltiplos parceiros sexuais e íntimos, pois não precisa necessariamente ter uma relação sexual para que a transmissão aconteça, mas a simples troca de saliva de um beijo, também pode ser uma canal transmissor. Nós precisamos conscientizar a população sobre esse alerta, principalmente os mais jovens, pois essa doença pode matar, ainda mais quando o infectado tem doenças imunossuprimidas. O contaminado pode passar o vírus para os pais ou avós, que tem uma idade mais avançada e são mais vulneráveis

Três Lagoas, por ser divisa com o Estado de São Paulo, aumenta a preocupação com as infecções da varíola dos macacos? 

Furio Nos preocupa também o fato da nossa cidade ter universidades e receber muitos estudantes de fora. Eles retornam às cidades onde tem família e pode também ir em locais com grande aglomeração. Os primeiro casos suspeitos foram de jovens que também participaram de uma festa no interior de São Paulo. Portanto, fica o alerta novamente

A Rede Pública Municipal de Saúde está preparada para receber e tratar os infectados?  

Furio A cada dia é algo novo. Eu estouconversando com nossos especialistas e preparando todo um treinamento para a nossa rede, baseado em notas técnicas preconizadas pelo Ministério da Saúde. Porém, os estudos em relação à doença são diários e, por esse motivo, precisamos estar todos os dias atualizando nossos protocolos de atendimentos. Uma preocupação é com relação às nossas gestantes, pois em muitos casos, a doença pode provocar partos prematuros. Portanto, todo esse treinamento e orientações fazem parte da nossa rotina 

O país vem convivendo com Covid-19 e a dengue, mas agora enfrenta essa nova doença. Esses desafios podem afetar as consultas e cirurgias eletivas?  

Furio Todo esse conjunto de doenças pode atrasar outros avanços da rede de saúde. Quando nós passamos por essa situação, eu a comparo com uma guerra, precisamos reconstruir muitos outros serviços. Nós temos muitas filas zeradas, como de tomografias, ressonâncias, marcando no mês que dá entrada ao pedido. Portanto, precisamos acelerar todos esses procedimentos para que eles não fiquem paralisados e se acumulando, como ocorreu quando a pandemia estava infectando e matando mais pessoas. Esse 2022 é um ano de reconstrução da nossa área da saúde três-lagoense