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A cilada das cervejas artesanais: o meu começo

Leia o Artigo publicado neste sábado (19) no Jornal do Povo

Leia o Artigo publicado neste sábado (19) no Jornal do Povo - Divulgação
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Me lembro como se fosse ontem, eu, numa tarde de outono, céu meio nublado, andando pelas ruas de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, procurando um presente pro maridão.

Éeeee. Já morei em terras fluminenses. O ano era de 2012. E detestava cerveja. Meus primos se reuniam no Natal na casa da matriarca da família: a tia mais velha. E lá esvaziavam engradados e engradados de cerveja comercial. E eu, na minha, no refri ou no suco, ou como eles me sugeriam o tempo todo: “Bebe chá, Flávia!”

Mas… meu marido era da turma da cervejinha gelada. Então, passando em frente de uma loja de cervejas diferentes, eu pensei: “Opa! E se eu montasse uma cesta com essas cervejas de rótulos legais?” Entrei e perguntei pra atendente: 

_ Vocês montam cesta de cervejas? 

_ A gente não tem a cesta, mas aqui do lado tem uma loja de mdf que vende cesta também, daí você pode escolher as garrafas e montar depois.

E foi o que fiz. No dia seguinte, já certa do presente que iria dar a ele, comprei a cesta, o saco celofane e um laço bem bonito. E depois entrei na loja de cervejas artesanais novamente para escolher quais garrafas iria comprar.

Eu, que não entendia nada de cerveja, fiz aquela pergunta clássica que todos nós, meros mortais, fazemos quando não queremos errar no presente:

_ Essa cerveja é boa?

E a atendente me respondia como a maioria das vendedoras e vendedores que todos nós estamos acostumados:

_ É sim! Muito boa. 

E eu seguia perguntando:

_ E essa daqui? 

E ela seguia me respondendo:

_ É muito boa também. Sai bastante. O pessoal compra muito dessa.

E eu, feliz da vida, acreditando que estava fazendo as escolhas certas, comprei seis garrafas, e fui para casa satisfeita.

Embrulhei a cesta de uma maneira detalhista e bem bonita. E deixei ela na mesa da cozinha. E não via a hora do meu marido chegar do trabalho lá pelas sete da noite pra ver a cara dele ao se deparar com a cesta! Era um presente inédito na nossa vida! Hahahaha! 

E as horas se passaram vagarosamente – dava 20 horas, mas não dava 19.

E ele chegou. O recepcionei, afinal, o dia todo fora de casa, né. E fomos pra cozinha. Quando ele viu a cesta, os zóio se arregalaram, um sorrisão brotou na cara, e ele me perguntou:

_ O que é isso? Que demais! Cerveja? Uau!

E logo as colocamos pra gelar. 

Quando abrimos a primeira, o susto:

_Isso daqui é bom?

A estranheza tomou conta do nosso paladar. Mas a atendente me disse que vendia muito dessa. Será que tá estragada? E olhamos a data da validade. Hahahaha. Clássico. Mas estava dentro do prazo. Bebemos, mesmo fazendo careta. Afinal, uma garrafa dessas não era barata na época. Hoje em dia também não é, né?

Partimos para a segunda na esperança de melhorar a degustação.

Horrível! Que trem amargo! 

Partimos pra terceira: estranho novamente. Tá meio azeda. Tá com gosto de vinagre! Gente… Pensa no ó do borogodó essa degustação. kkkkkk

E assim se sucedeu até terminarmos as 6 garrafas. 

Mas não é possível. Algo errado não estava certo. Fomos pesquisar os rótulos e os nomes diferentes no Google: Blond Ale, IPA, Pale Ale, Lambic… e aí a surpresa: Ahhhhhh! Agora sim! Nada como uma pequena leitura para clarear a mente e mudar a chavinha do paladar a qual estávamos acostumados. 

Depois do susto, acabamos virando clientes assíduos da loja, levamos nossos amigos pra conhecer, e eu acabava ficando tonta por estar experimentando rótulos novos, de cervejarias diferentes. Aprendi a perceber o meu limite ao beber cerveja e saber parar ao primeiro sinal do começo da embriaguez. O papo era sempre bom, o ambiente era sempre alegre, música boa, amigos, mas manter a classe e a pose faz parte da minha disciplina. Até pra gente poder curtir melhor no outro dia também, né. E sabe o que mais eu descobri? Que eu gostava de cerveja sim, só não havia conhecido os meus estilos favoritos.  

Ahhhh! Tem outra coisa – muuuuito importante – que eu e meu marido aprendemos e carregamos com a gente até hoje no dia a dia do nosso trabalho! Se alguém nos pergunta se essa ou aquela cerveja é boa, nós nunca, jamais, em hipótese alguma, respondemos:

_ É sim. Muito boa. Sai bastante. 

 

Flávia de Souza – 
Sommelière de cerveja do Beer Prosaz