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Três Lagoas

ABANDONO: Frigorífico de peixes está parado há um ano

Espaço construído, e mobiliado, permanece fechado por falta do termo de concessão de uso da Cesp

Há mais de um ano, pescadores do Jupiá aguardam o funcionamento do frigorífico de peixes, construído e mobiliado às margens do rio Paraná, mas que, até agora, permanece desativado e trancado.

De acordo com o presidente da Colônia de Pescadores, Milton Garcia Duarte, a construção do estabelecimento teve início há mais de dois anos, como obra de compensação ambiental – resultado de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal contra a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), iniciada desde 1998. No ano passado, o espaço físico ficou pronto e foi mobiliado, no entanto, os pescadores aguardam a assinatura de um termo de concessão de uso da Cesp para inaugurar o local. “Ela (empresa) nos entregou uma concessão de uso, mas que já estava vencida e desde então estamos aguardando a nova liberação. Com isto, ficamos com um caminhão, uma lancha e toda aquela estrutura parada”, explicou o presidente.

Na mesma ação, além do frigorífico, a Colônia de Pescadores também recebeu um caminhão baú zero quilômetros e uma lancha para o transporte dos peixes. “Este projeto foi orçado em R$ 600 mil na época. Nele, além dos veículos também estão equipamentos como a câmara fria do frigorífico, já comprada e instalada”, completou.

A equipe de reportagem visitou as instalações do frigorífico. Assim que chegamos à Colônia de Pescadores, encontramos o caminhão estacionado na garagem da sede. O veículo que, segundo o presidente da Colônia, está enferrujando e estragando por falta de uso. “Todos os equipamentos estão estragando sem ao menos serem usados”, disse. Milton não pode acompanhar a equipe até o frigorífico. Ele foi representado por Antonio Souza Farias, também da Colônia de Pescadores.

A porta do frigorífico estava trancada. O primeiro cômodo é destinado á uma recepção, com mesas, cadeiras e armários empoeirados. No espaço também existem banheiros, uma pequena cozinha, a câmara fria com capacidade para cerca de cinco mil quilos de peixe, conforme Antonio; um mostruários refrigerado, uma mesa de alvenaria e pias para a limpeza e corte dos peixes.

Antonio explica que a assinatura do termo de concessão de uso é essencial para dar continuidade ao processo burocrático para inauguração do estabelecimento. “Além dele [termo], também precisamos do licenciamento ambiental, por parte da Sema [Secretaria Estadual de Meio Ambiente] e também alvará da vigilância sanitária, da Prefeitura. No entanto, tudo está travado. Não vejo previsão de inauguração antes do ano que vem. Enquanto isto, tudo fica parado. Não podemos utilizar nem a lancha e nem o caminhão, porque os veículos não foram adquiridos para outra finalidade, a não ser o frigorífico, seria um desvio de função”, desabafou.

Antes da visita da reportagem, o local só havia sido aberto para o serviço de capinagem e limpeza do terreno, realizado há uma semana, aproximadamente. A medida visa preparar a área para o recebimento de pedras, doadas por uma empresa local. “Como podemos, estamos tentando realizar algumas bem feitorias no local. O nosso objetivo também cercar está área, mas temos recursos para tanto. A Colônia só é mantida com as taxas dos associados”.
 
FUNÇÃO

Antonio explica que, caso estivesse funcionamento, o frigorífico ajudaria o pescador a agregar valores aos seus produtos. “Aqui, seria possível limpar o peixe, cortar em filés, para depois vender. Com isto, seria possível até aumentar as vendas, já que muitos preferem comprar o peixe já limpo e filetado”.

Assim que encerrada toda a “etapa burocrática”, a Colônia deverá se reunir para discutir qual será a metodologia de uso do espaço. “Existem duas alternativas, montar uma cooperativa no local, ou, trabalhar como já vem sendo feito, mas com o benefício de que o pescador possa agregar valores ao seu produto ou armazenar os peixes dentro do frigorífico. Futuramente, as duas propostas serão apresentadas e votadas”, disse.

Na segunda opção, o frigorífico seria utilizado pelos pescadores como uma central. Cada um pagaria uma taxa de manutenção – para gastos como limpeza, água, luz e outros – e poderia fazer uso do espaço.

“Também poderíamos montar um ponto de venda no próprio frigorífico e, se tivéssemos recursos suficientes, um restaurante na frente, esta área é muito grande. Mas temos de reunir todos os pescadores para discutir. Será a vez do tudo ou nada”, disse.

 Projeto de implantação de tanques redes

Para o presidente da Colônia, a inauguração do frigorífico viria casar com o projeto de implantação de tanques redes, em fase de estudo pela Secretaria Municipal de Agronegócio. Conforme o secretário da pasta, Luiz Akira, há alguns meses, o Município vem tentando viabilizar a implantação de uma unidade de pesquisa para a criação de peixes em cativeiro, em Três Lagoas.

“Estamos negociando diretamente com o Ministério da Pesca. A intenção é pegar os tanques redes de outras localidades, onde o projeto não teve tanta aceitação, e trazer para Três Lagoas. Sem custo algum para os beneficiados”, disse.

Este não seria o primeiro projeto de criação de peixes em cativeiro iniciado em Três Lagoas. Há alguns anos, uma ação semelhante foi lançada no Município. Porém, não durou um ano.

“Na época, os pescadores haviam montado uma associação, 18 membros ao todo. A produção foi uma beleza, mas não tínhamos experiência de vendas. Por isto, com o frigorífico produziríamos e agregaríamos valores na Cidade”, relembra Milton.

O projeto também deverá influenciar na sobrevivência da profissão de pescadores.  Ainda segundo informações do presidente da Colônia de Pescadores, muitos profissionais estão abandonando a profissão por conta da escassez de peixes. “Só com o peixe do rio não dá mais. Está muito difícil se manter apenas com o recurso da pesca. Muitos estão deixando a profissão, trabalhando de serventes, pedreiros para poder se sustentar”, disse.

A situação deve agravar ainda mais com a aproximação do período da Piracema (reprodução dos peixes) em que a pesca é “fechada” em Mato Grosso do Sul, como completou Antonio. Por enquanto, o projeto ainda está em fase de analise, mas, segundo o secretário, um dos beneficiados será os profissionais ligados à Colônia de Pescadores.