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Três Lagoas

Adultos voltam para a sala de aula em busca da alfabetização

Dados do último Censo apontavam mais de 4,6 mil analfabetos em Três Lagoas

O índice de analfabetismo no Brasil ainda é grande. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgados em setembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que existem 13 milhões de analfabetos no Brasil. Em Mato Grosso do Sul , segundo o levantamento, existem 202 mil analfabetos. As pessoas que não sabem ler e nem escrever fazem parte do grupo de habitantes em idade escolar – com cinco anos ou mais de idade.

Em Três Lagoas, segundo dados do Censo de 2010, existiam no município, 4.683 analfabetos. O índice, no entanto, vem caindo desde o Censo de 2000, quando eram 5.658 os analfabetos, e, em 1.991, eram 7.029 as pessoas com dificuldades para ler e escrever. Para mudar essa realidade, a Secretaria Municipal de Educação, oferece matriculas no Programa de Aceleração da Aprendizagem (PAA), que faz parte do ensino regular oferecido pela Rede Municipal de Educação (Reme).

De acordo com a inspetora da Secretaria de Educação, Selma Ferreira da Silva, esse programa atende alunos com defasagem de série e pessoas não alfabetizadas, com idade acima de 15 anos, através do programa Menor Aprendiz. Segundo a inspetora, até o mês de fevereiro, 259 alunos estavam matriculados para frequentar as aulas do programa. O número, segundo ela, deve ter aumentado, já que muitos procuram a escola depois que as aulas já foram iniciadas. Esse programa é oferecido em duas escolas municipais, na Professor Élson Lot Rigo, no Jardim Oiti, e na escola do Parque São Carlos.  

Além do Programa de Aceleração da Aprendizagem (PAA), a Rede Municipal de Educação, juntamente com o Ministério da Educação (MEC) oferece também o Programa Brasil Alfabetizado, que atende 83 alunos em onze turmas, em Três Lagoas, na sua maioria, pessoas com idade avançada, mas que não sabem ler e escrever. Esse projeto, segundo Selma, é ministrado por pessoas voluntárias, as quais por conta própria formam turmas e dão aulas em locais escolhidos por elas, como igrejas, centros comunitários, ou até em casa. Pelo trabalho voluntário, a pessoa recebe uma bolsa no valor de R$ 400,00.

Os alunos do Programa Brasil Alfabetizado não recebem certificados, pois o projeto é voltado para ensinar o básico. Já o Programa de Aceleração da Aprendizagem disponibiliza certificado de conclusão do curso. Entretanto, existem muitos alunos do PAA que também têm muitas dificuldades em ler e escrever.

EXEMPLOS

O Jornal do Povo esteve na escola Professor Elson Lot Rigo para acompanhar um pouco deste trabalho e se deparou com exemplos a serem seguidos por jovens que muitas das vezes abandonam ou não deram importância ao estudo. Situação bem diferente da realidade das pessoas que frequentam esses projetos, que não tiveram oportunidades de estudar quando eram jovens.

A maioria dos alunos que frequentam esse projeto na escola do Jardim Oiti, é de pessoas com idade avançada, mas que não abrem mão de frequentar a sala de aula, porque querem aprender a ler e a escrever.

Maria Aparecida Gazola, de 54 anos, mora em um rancho na região do Sucuriú e vêm todas as noites para a cidade com o objetivo exclusivo de aprender a ler e escrever. Ela contou que, quando criança não teve oportunidade de estudar, pois morava no sítio e o padrasto dizia que não tinha a necessidade de estudar. Antes de frequentar esse projeto, Maria não sabia escrever nem o nome, agora já sabe. “É motivo de orgulho escrever meu nome. Agora, já sei escrever e ler um pouco”, destacou. Diferente do padrasto, Maria disse que incentiva os filhos e netos estudarem.

Além dela, outros alunos, cerca de 20, que moram na zona rural também participam do curso. Ivanusa de Souza Lima faz questão de não faltar nem um dia na escola. Conta que, quando criança morava no Rio Grande do Norte, e também não teve oportunidade de frequentar a escola. “Meus pais não me colocaram na escola. Eu queria aprender a escrever meu nome, então resolvi vir para a escola. Hoje já consigo escrever meu nome, ler ainda não consigo, até porque essa é a primeira vez que frequento a escola, mas quero aprender”, contou. 

Morador do bairro Quinta da Lagoa, o aposentado José Gomes da Silva, de 66 anos, também começou a frequentar a sala de aula neste ano. Quando criança, disse que não teve oportunidade de estudar, pois tinha que trabalhar na roça. Agora, depois de aposentado sentiu a necessidade de se frequentar a escola, pois tem como meta obter a Carteira Nacional de Habilitação.

O NOME

Aos 61 anos, a aposentada Luiza Justino da Silva também está frequentando a escola. “Quando criança não tive oportunidade de estudar, trabalhava na roça, mas eu queria aprender ,então resolvi vir para a escola. Estou muito feliz por poder escrever meu nome”, disse. A aposentada Matilde Santos de Oliveira, de 67 anos, também está frequentando a escola com o mesmo objetivo. “Eu era de família muito pobre e não tive tempo e oportunidade, então, agora, resolvi estudar. Já aprendi a escrever meu nome e ler um pouquinho”, dizendo que adora ir à escola.

Para a professora de português, Sônia Góis, é triste saber que ainda existem pessoas que não sabem ler e escrever. Mas, ao mesmo tempo, diz que tem orgulho ao ver essas pessoas com idades avançadas, querendo aprender. “São pessoas que não tiveram oportunidade, mas estão aqui, com garra, vontade e muita dedicação, querendo aprender”, destacou Sônia, que leciona na escola Professor Elson Lot Rigo, onde tem 80 alunos em três turmas. A idade deles varia de 16 anos, a minoria, vai até 70 anos.

Além da língua portuguesa, os alunos têm aula de inglês. Segundo a professora Amanda Lamônia, os alunos ficam um pouco assustados com essa disciplina, pois já encontram dificuldades para aprender o português. “Eles ficam um pouco assustados, mas a gente procura trabalhar com muita tranquilidade e de maneira simplificada para que eles  aprendam. Digo que é muito gratificante trabalhar com essas pessoas”, destacou.