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Três Lagoas

Agentes de endemias lançam operação tartaruga

Os profissionais da saúde protestam contra criação da meta de seis casas borrifadas por dia

Os agentes de controle de endemias, responsáveis pelo trabalho de borrifação em combate à leishmaniose, lançaram nesta semana uma operação tartaruga.
 
Segundo um agente de borrifação, que pediu para não ser identificado, a medida não chega a ser uma paralisação, mas visa a redução da jornada de trabalho de seis residências borrifadas (meta estipulada pelo Município) para uma média de dois a três imóveis por dia.

A redução na jornada de trabalho se deve à portaria baixada pela Secretaria Municipal de Saúde, que prevê o cumprimento da meta de seis casas visitadas pelos agentes por dia para receber os R$ 200 de benefícios. “Este não foi o acordo firmado. No ano passado, quando realizamos a paralisação, ficou acordado que o nosso piso permaneceria o mesmo, mas que teríamos esta gratificação”, disse.

A meta de seis residências borrifadas por dia corresponde a uma média de 40 casas “feitas” ao mês e “é praticamente impossível de ser cumprida”, declarou.
De acordo com ele, uma das maiores barreiras para o cumprimento da meta não seria nem a questão de tempo, mas a falta de participação da comunidade. “O trabalho não depende apenas da gente, depende do morador também, e este, muitas vezes, não colabora. Muitos se recusam a permitir nossa entrada. Outros agendam um horário, mas saem. As visitas são agendadas, mas, em alguns casos, quando chegamos à residência, temos de aguardar o morador preparar a casa para a nossa entrada”, completou.

Ao contrário das medidas de combate à dengue, as ações de controle da leishmaniose visam a borrifação no interior das residências. Quadros precisam ser retirados e móveis afastados da parede, onde o produto de combate ao mosquito transmissor da leishmaniose é lançado.

Segundo um dos entrevistados, a média de um agente de borrifação é de quatro a cinco imóveis por dia, numa média de uma hora e meia por residência. . “Até hoje, quatro agentes recebeu a gratificação”, completou o entrevistado.

O coordenador de Endemias, Wilson Roberto Pereira Mendes, confirmou a redução da jornada dos agentes, mas explicou que não chega a se tratar de uma operação tartaruga. “Na semana passada, tive uma reunião com os agentes e alguns deles expuseram estes problemas. Não são todos envolvidos na mobilização. Mesmo assim, começaremos nesta semana uma ação para avaliar a situação dos agentes”.

De acordo com Mendes, desde ontem (20), um profissional do Departamento de Endemias e Duílio Aparecido Dias, da Secretaria Estadual de Saúde, estão acompanhando os trabalhos de campo das duas equipes de endemias atuantes no Município. O objetivo é analisar de perto as dificuldades dos agentes e traçar medidas para amenizá-las. “A meta de seis casas diárias é estipulada pelo governo do Estado, mas estamos dispostos a analisar a nossa situação. Os agentes já nos repassaram os problemas por eles enfrentados e estamos dispostos a estudar tudo isto”, completou.

O coordenador completou dizendo que, baseado no estudo, será possível verificar se há, ou não, necessidade de redução da meta. “Entendemos as dificuldades dos agentes. Em um único dia, dois ou três imóveis deixam de ser borrifados porque os proprietários não foram localizados. Mas a possibilidade de reduzir a meta não está descartada”, reforçou.

SALÁRIOS E METAS

Conforme Mendes, atualmente, o agente de endemias recebe em torno de R$ 403 (salário base) e R$ 72 de gratificação fixa, que corresponde a um piso de R$ 537. A gratificação extra, concedida apenas pelo cumprimento da meta, é de R$ 200. “O piso é o mesmo para os agentes que trabalham no combate à dengue, porém a gratificação deles é de R$ 108 para cada 25 casas visitadas”.

Atualmente, o combate à leishmaniose conta com um quadro de 21 agentes, entre eles dois supervisores. O grupo, dividido em duas equipes, tem de borrifar um total de 11.308 imóveis neste ano, conforme determinação do Programa Nacional de Combate à Dengue e Leishmaniose, da Secretaria Estadual de Saúde. A expectativa é de que, com a abertura de concurso para a contratação de 40 novos agentes, o cumprimento das metas seja facilitado. Na semana passada, o coordenador de Endemias participou de um encontro em Nova Andradina para discutir o plano de ações de combate à leishmaniose do próximo ano.