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Às portas de 2022!

Leia o artigo da edição do Jornal do Povo deste sábado

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O que esperamos para 2022? Essa é a pergunta que todos nós brasileiros fazemos, sejamos advogados, comerciantes, empresários, políticos ou estudantes. Não é fácil responder essa pergunta, pois o ‘Brasil não é uma ilha’. Não estamos isolados e muito menos somos um player global possível de ser ignorado.

Sob o ponto de vista internacional, contamos com dois importantes problemas: o primeiro deve ser transitório e já está sendo “enfrentado” pelas grandes potências, que é a inflação temporária causada pela disrupção das cadeias produtivas e pelo Quantitative Easing realizado pelos Bancos Centrais para manter a liquidez nas empresas e no mercado financeiro mundial. Neste cenário, o Brasil não fica isolado e deverá sentir os impactos da turbulência internacional, contudo nada é mais nebuloso do que uma possível invasão da Ucrânia por parte da Rússia, o que poderia nos causar uma nova Guerra Fria entre o Ocidente, a Rússia e a China. 

Na economia local o cenário é desafiador, pois devemos ter um ano de 2022 com inflação acima da meta, um período de tensões políticas até outubro e a partir do ponto de vista da economia se enxerga um cenário de crescimento zero ou até mesmo uma estaginflação; ou seja, um período sem crescimento econômico com inflação alta, consubstanciando-se o pior dos cenários. Neste patamar, o que se pode fazer? Como poderemos nos preparar para um ano com tantas incertezas, tantos problemas? Devemos como Nação ficar inertes? Isso sem contar que, apesar da vacinação em alta, ainda existem os problemas das variantes. Acho que, longe disso, devemos repensar diversos aspectos da nossa vida em sociedade, da política e da economia.

Em primeiro lugar, precisamos nos conscientizar de que nação nenhuma supera problemas quando está dividida, quando não há um esforço comum e colectivo das importantes mentes do país para resolver os entraves que sempre existirão, seja hoje, seja em 2022 ou daqui a 10 anos. Apenas com esse tipo de visão poderemos ter garantida a nossa estabilidade. É dentro do sentimento de estabilidade que se obtém a segurança dos investidores para iniciar projetos e montar novas fábricas. É com estabilidade que mais dólares entram no Brasil para se aplicar na bolsa e nos negócios fazendo cair sua cotação. É com estabilidade que as pessoas solicitam empréstimos para comprar carros, casas e viajar. É com estabilidade que a economia gira e o desemprego diminui. Pode parecer simples, mas estabilidade está em falta no Brasil e por causa disso a credibilidade sobre como e quando vamos nos recuperar no pós-pandemia é colocada em xeque. Muitas vezes não se fala sobre o assunto, mas os números não são de esquerda ou de direita; números não mentem, eles apenas apresentam friamente a verdade sobre o que o país viveu e como ele poderá se apresentar no futuro próximo.

A bolsa de valores mostra sinais diversos com altos e baixos índices, setores independentes e sem uma tendência clara, contudo o Ibovespa é o índice que mais se desvalorizou dentro do G20, refletindo as expectativas dos investidores sobre o futuro da economia brasileira. Tivemos muitos avanços no mercado de capitais brasileiro, no mercado de câmbio e principalmente com a independência do Banco Central, entretanto é importante lembrarmo-nos de que várias empresas brasileiras estão transferindo seus IPOs (Ofertas Públicas Iniciais) para os Estados Unidos, temendo que o “risco Brasil” contamine suas cotações, independente de quão boas sejam suas operações. Nas últimas semanas, venho fazendo alguns diagnósticos complexos sobre nossa economia, entretanto não o faço por uma questão de pessimismo, mas sim pela visão do mercado e dos seus agentes. A ‘chave’ de que precisamos para mudar essa visão é uma apenas: o pragmatismo. O Brasil e os brasileiros precisam colocar o pragmatismo acima de suas ideologias. As nações que resolveram seus problemas e se tornaram desenvolvidas foram aquelas que focaram seus negócios, seus empregos e sua tecnologia, e é exatamente disso que estamos precisando para 2022. O mundo reabre e com ele precisamos estar prontos para um novo cenário de competição entre empresas e nações; precisamos de novos mercados consumidores internos e externos, precisamos buscar novos recursos naturais e precisamos mostrar que, como a principal economia da América Latina, é possível sermos inovadores, responsáveis e integrados às cadeias globais de valor.

Durante as últimas semanas vivemos uma polêmica sobre o Touro de Ouro, uma réplica do touro de Wall Street, de uma corretora de valores ter colocado em frente à bolsa de valores de São Paulo. Logo depois um touro desnutrido foi colocado no mesmo lugar, tecendo uma crítica à situação de fome no país. Críticas à parte de ambos os lados, esse é um excelente exemplo de como o país está dividido não havendo respeito entre pensamentos divergentes. Precisamos iniciar 2022 buscando estabilidade, credibilidade e previsibilidade; caso contrário, teremos um ano mais que perdido, teremos um ano de recuo na qualidade de vida das pessoas… E isso será um tormento para todos.

Agora não é hora de esmorecer, não existem problemas ou situações complexas que nós brasileiros não sejamos capazes de resolver. Mais do que nunca vivemos em dois Brasis e nenhum efetivamente está melhor do que o outro, contudo precisamos do melhor dos dois para termos como oferecer a toda nossa população um 2022 de esperança e transformações. Que venha um ano promissor para nós!

Igor Macedo de Lucena é economista e empresário.