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Três Lagoas

Consumo de crack avança no interior

Em Três Lagoas, levantamento não é novidade; o entorpecente é consumido aqui desde 93

Pesquisadores de diversos pontos do país alertam para o aumento do consumo de crack nas grandes capitais e cidades do interior brasileiro. A propagação do tipo de entorpecente, chegou a tal ponto que alguns especialistas já abordam o assunto como uma possível epidemia do subproduto da cocaína.
Um desses levantamentos foi realizado pelo psiquiatra Feliz Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Kessler coordenou um estudo recente realizado em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro. O resultado da pesquisa foi assustador: nestes pontos foi detectado um aumento de 40% a 50% no número de usuários de crack em tratamento ou internados em clínica para atendimento
O psiquiatra também chegou a outras conclusões por meio do estudo. Dentre elas, ele pode traçar um perfil dos dependentes do entorpecente: a maioria tem idade média de 31 anos, inferior a média geral (41 anos) e 52% deles são desempregados. Além disso, as estatísticas aumentam ainda mais no interior.
"No Hospital São Pedro [Porto Alegre], o número de usuários de crack vindos do interior é muito grande. A cada dez pacientes que procuram a emergência psiquiátrica do hospital, cerca de sete são usuários de crack vindos do interior", conta Kessler.

REALIDADE LOCAL

Enquanto a presença da droga na maioria das cidades brasileiras foi detectada há poucos anos – em Minas Gerais, há dez anos, sendo três deles com índices elevados de consumo -, em Três Lagoas o crack e seus derivados, como a zuca, já eram comuns entre os freqüentadores de pontos de venda de entorpecentes há muito tempo.
A “epdemia do crack” não é novidade a nenhum três-lagoense. A droga, liberada há três anos em boa parte das favelas do Rio de Janeiro, Jacarezinho e Manguinhos, chegou ao Município há mais de uma década. Foi em 1993 que as polícias começaram a detectar o, na época, “novo tipo de entorpecente”, mais rentável, de maior comércio e de dependência mais agressiva, e a droga parece ter vindo para ficar, como foi abordada pela própria equipe do Jornal do Povo em matérias especiais (a última publicada no dia 19 de dezembro).
Hoje, o crack e a zuca, principalmente, correspondem a mais de 80% das apreensões realizadas pela Polícia Militar (PM). A venda dos dois derivados da cocaína chegou a tal ponto que a Cidade perdeu o título de “rota do tráfico” e ganhou o de “ponto de uso”.
Para se ter uma base, no ano passado, ações da PM foram responsáveis pelo fechamento de pouco mais de 200 pontos de venda de entorpecentes. Foram 20% de “bocas” a mais, se comparado com o número de apreensões de 2007: quando a PM não chegou a fechar 180 pontos de venda de drogas. Ao todo, foram apreendidos: 190 trouxinhas de maconha, 762 papelotes de derivados da cocaína, 68 papelotes de pasta base de cocaína, 297 pedras de crack e 38 papelotes de zuca (subproduto do crack). Muitas autoridades ligadas à Segurança Pública do Município defendem que o consumo da cocaína “pura” é raro, mesmo na classe alta, já que esta mercadoria seria destinada aos grandes centros.
A teoria faz sentido se relacionada ao outro resultado da pesquisa de Kessler. Para ele, o crack também está ganhando terreno entre grupos com rendimentos mais elevados, “apesar de a droga ser mais comum entre as classes de baixa renda”, destacou.
No mesmo levantamento, pesquisadores apontam a necessidade de mais ações preventivas e de repressão para tentar frear a “epidemia”. O estudo gerou uma série de reportagens especiais, divulgada no site da Agência Brasil, de onde foram obtidas as informações desta reportagem.