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Três Lagoas

"CRASE tem estrutura para transformar realidade social"

A afirmação ocorreu durante entrevista com o Bispo da diocese de Três Lagoas, dom José Moreira Bastos

A estrutura da obra do Centro de Referência de Assistência Social e Educacional (CRASE) “Coração de Mãe” foi elogiada pelo bispo da Igreja Católica, dom José Moreira Bastos Neto (56), há pouco mais de dois meses à frente da Diocese de Três Lagoas. Para ele, é importante não deixar de lado a força da religião e dar abertura às Igrejas para que participem também e auxiliem o Poder Público na formação dessas crianças e adolescentes, que serão atendidas pelo CRASE. “As ações de transformação social de uma comunidade se fortalecem quando acompanhadas também da forte e sempre atual mensagem do Evangelho”, comentou dom Moreira Bastos.

Mineiro, nascido em Simonésia (MG), o sucessor de dom Izidoro Kozinski, “aos poucos e devagar”, pretende manter “um bom e colaborador relacionamento com as autoridades legalmente constituídas”.

Discreto, o bispo de Três Lagoas informou que está conhecendo aos poucos os costumes do sul-mato-grossense, “bem diferentes dos mineiros”, para depois tomar as “medidas pastorais necessárias para a vida e a contínua renovação da Igreja nesta região da diocese de Três Lagoas”, explicou.

JP: Passou-se pouco mais de dois meses da sua posse como bispo da Diocese de Três Lagoas. Qual era a sua expectativa e como avalia a recepção que teve na cerimônia de posse?

Dom Moreira: Como mineiro, estava meio receoso. Mas como bispo, nomeado pelo papa Bento XVI para esta missão, estava confiante e feliz de iniciar uma nova e responsável missão dentro da Igreja, como pastor da diocese de Três Lagoas. Fiquei surpreso com tamanha e carinhosa manifestação popular. Surpreendeu-me também a presença maciça dos padres, diáconos e agentes pastorais e também dos bispos de outras dioceses do Estado. Senti que minha vinda para Três Lagoas estava sendo esperada para dar nova vida à Igreja desta diocese.

JP: Qual a primeira impressão que teve, ao visitar todas as paróquias da Diocese?

Dom Moreira: Sem contar as quatro paróquias da cidade de Três Lagoas, percorri 1.980 km para visitar e conhecer as nove cidades da região do Bolsão que compreendem a diocese de Três Lagoas: Brasilândia, Santa Rita do Pardo, Água Clara, Selvíria, Aparecida do Taboado, Paranaíba, Inocência, Cassilândia e Chapadão do Sul. Em todas as paróquias fui carinhosamente recebido. A Diocese possui uma dimensão de 57.877 km2 de área territorial. Não tinha idéia das longas distâncias que separam uma cidade da outra, aqui nesta região.

JP: Como é a atuação da Igreja Católica nessas cidades da Diocese?


Dom Moreira: Em todas as cidades, a comunidade católica é atuante na sociedade. Em todas elas temos importantes lideranças leigas, que muito têm ajudado para o crescimento da Igreja, nessas cidades. Percebi também que as Paróquias estão relativamente bem instaladas estruturalmente. Além da igreja e casa paroquial, em todas as paróquias eu percebi que existe um salão social para atender à comunidade. É nesses salões, todos bem equipados, que a comunidade se reúne para festas e outros eventos sócio-culturais. Em algumas cidades, o salão social é até maior que a própria igreja e serve até para salão de baile, aberto a toda a comunidade. É uma realidade diferente daquelas que eu vivi na diocese de Caratinga, em Minas Gerais.

JP: Falando especificamente da Igreja em Três Lagoas, qual a sua primeira avaliação e o que pretende fazer de imediato?

Dom Moreira: A Cidade é grande. Temos quatro paróquias: Santo Antônio, na região do centro, Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida e Santa Rita de Cássia, que abrange, principalmente os bairros de Vila Nova e Paranapungá. Com o tempo, teremos que criar mais paróquias, porque a Cidade não para de crescer. Temos uma boa liderança religiosa em todas as paróquias e nas comunidades, que antigamente, chamávamos de capelas. Pretendemos criar e manter um curso permanente de formação religiosa para leigos, especialmente, para os agentes de pastoral. Serão cursos de formação atualizada. Percebemos que temos muitos leigos, dispostos a trabalhar e com capacidade de liderança, mas com pouca formação religiosa.

JP: Como avalia a pastoral dos padres que trabalham em Três Lagoas?

Dom Moreira: Nas quatro paróquias de Três Lagoas e também na Catedral Sagrado Coração de Jesus, temos uma boa equipe de sacerdotes, apesar de serem poucos para o tamanho da Cidade e o estimado número de habitantes. Pretendemos estabelecer uma reunião mensal dos padres, não só de Três Lagoas, mas de toda a diocese. É importante que tenhamos uma linha de pastoral. Para isso, são importantes as reuniões periódicas, para troca de experiências. O bispo conta com a união e a força do conselho de presbíteros, que são os padres. A paróquia é uma célula da diocese. Vamos trabalhar para estabelecermos uma forte união entre todos. Ao lado dos padres, temos os diáconos e os agentes de pastoral. Queremos despertar em todos a consciência da pastoral da Igreja.

JP: Em Três Lagoas, temos a atuante presença da Missão Salesiana, tanto na Catedral, como no Colégio Dom Bosco e no projeto social da Vila Piloto. Como pretende relacionar-se com eles?

Dom Moreira: Para quem não sabe, os padres de uma Congregação Religiosa devem obediência ao seu superior, no caso de nomeação ou transferência. Resumindo, ao bispo eles devem obediência apenas no cumprimento das linhas pastorais e das demais normas da Igreja. No entanto, é nosso propósito solicitar do superior da Missão Salesiana, em Campo Grande, dois ou mais sacerdotes, para colaborarem com a gente. Os que aqui estão são muito bons, mas estão sobrecarregados. Acredito que serei atendido, quando isso for possível.

JP: De imediato, como pretende suprir o reduzido quadro de sacerdotes, na diocese e, especialmente, em Três Lagoas?

Dom Moreira: Temos os diáconos permanentes. Pretendemos aumentar esse número, escolhendo com critérios e prudência outras pessoas para esse ministério. Queremos o diácono mais presente nas comunidades dos bairros, nas celebrações e na vida. Eles devem ser, realmente e de fato, os auxiliares dos padres. Só assim, poderemos criar outras paróquias em Três Lagoas, que já se tornam necessárias. Tudo isso e outras questões relativas à vida da Diocese serão apresentadas e discutidas em novembro, quando da realização da assembléia, que estamos já preparando.

JP: Como deverá ser o relacionamento do Bispo com as autoridades e com os políticos?

Dom Moreira: Acredito que será muito proveitosa. Não pretendo estar presente somente para prestigiar. A presença da Igreja deve ser transformadora e eficiente, não simplesmente para aparecer. Toda a autoridade, legalmente constituída, deve ser respeitada. Estamos prontos para colaborar em todas as áreas, se for possível. A mensagem do Evangelho cabe em todos os lugares. A Igreja deve estar a serviço de todos os segmentos da comunidade, como força transformadora da sociedade.

JP: O senhor esteve na inauguração do Centro de Referência de Assistência Social e Educacional (CRASE), denominado “Coração de Mãe”. Como avalia essa obra social?

Dom Moreira: Pelo que eu vi e tomei conhecimento, é uma grande obra social para a Cidade. Tem tudo para ser transformadora da realidade social que nós, infelizmente, vivemos hoje. É importante que tenhamos ações de transformação social junto com a evangelização. Jesus Cristo disse: “Eu vim para que todos tenham vida”. As ações de transformação social de uma comunidade se fortalecem quando acompanhadas também da forte e sempre atual mensagem do Evangelho Teremos como tirar nossas crianças e adolescentes do mundo das drogas, assaltos e outros crimes, se lhes oferecermos propostas que os atraiam. O CRASE poderá ser um ótimo instrumento para isso. A Igreja está à disposição para colaborar e estar presente nessas ações. Temos como colaborar e é nossa obrigação estarmos presentes nessas ações.