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Descontrole

Economista associa endividamento a problemas de saúde

Marçal Rizzo aponta disfunções orgânicas provocadas pelo endividamento

O momento econômico que o Brasil vive aliado a carência de Educação Financeira tem levado parte dos brasileiros ao desequilíbrio financeiro que, por sua vez, pode trazer inúmeros problemas relacionados à família, à saúde, ao emocional e ao trabalho. O economista e professor da UFMS do campus de Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo, aborda estes pontos em uma nova entrevista sobre economia.

JPNews – Todo dia sai alguma matéria na mídia que demonstra os milhões de inadimplentes do Brasil. Quais são as principais causas para termos chegado a este grave ponto?
Marçal Rogério Rizzo –
As causas são variadas. Temos que lembrar que o Brasil atravessa uma crise econômica que apresenta elevado número de desempregados. Outra causa além do desemprego é a queda da renda familiar. Temos que aliar a isso a facilidade ao acesso e a aquisição de crediário, ou seja, cai a renda familiar e eleva-se as compras a prazo e até mesmo aumenta o número de parcelas. Isso tudo vai virando uma enorme “bola de neve”. A família brasileira vai se endividando, ainda mais por termos a ausência de educação financeira e do controle dos gastos. A pessoa faz assumo a compra pensando no valor daquela parcela e se esquece dos outros compromissos. Há também, pessoas que estão inadimplentes por terem emprestado seu nome para terceiros e, claro, há casos de enfermidades e de contas inesperadas que levaram a pessoa para o buraco.   

Hoje compreendemos que a Educação Financeira se faz cada vez mais necessária na vida dos brasileiros. Pessoas que estão endividadas ou inadimplentes podem ter quais implicações em suas vidas?
Os problemas poderão ser inúmeros. Partimos com a negativação do nome nos órgãos de proteção ao crédito, como o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos do Banco Central), o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito e o Serasas Experian. Vale lembra que hoje com o uso da internet a negativação ocorre de forma muito rápida e nacionalizada. Outro ponto é que o inadimplente terá dificuldades para realizar compras a prazo e aquisição de empréstimos. Apresentará problemas para locar um imóvel ou até mesmo renovar a matrícula em escolas ou faculdades. Agora se ficar inadimplente com algum serviço como energia elétrica, água, internet, TV a cabo ou alguma assinatura terá o bloqueio no serviço. Existe também o risco do inadimplente receber alguma cobrança desconcertante. 

Inadimplência e contas descontroladas mexem com o psicológico das pessoas?
Mexe demais. Aquela história que “devo não nego, pago quando puder” não é tão real assim. A grande maioria das pessoas que estão inadimplentes não conseguem colocar a cabeça no travesseiro para dormir em paz. As dívidas ficam martelando. Já há estudos que relacionam a inadimplência a ansiedade, a baixa autoestima e até mesmo a depressão. O fato é que causa problemas emocionais graves que podem afetar a saúde física das pessoas. Já há estudos de universidades norte americanas que detectaram o aumento da pressão arterial em jovens endividados, que ocasiona a hipertensão e o AVC. Outro estudo revelou que o estresse resultante das dívidas pode ocasionar problemas cardíacos e doenças autoimune. É falso pensar que o inadimplente não está nem aí com a suas dívidas. No caso do Brasil a preocupação se qualifica justamente por 53% dos inadimplentes estarem devendo justamente para instituições financeiras que em alguns casos apresentam juros elevadíssimos como é o caso dos juros do cartão de crédito e do cheque especial.

Uma pessoa descontrolada financeiramente pode sofre mudanças nas relações familiares e social? 
Aqui é outro ponto complexo. Tudo está relacionado. É um sistema fechado que exige equilíbrio. Uma pessoa endividada certamente estará com seu emocional abalado. No caso da relação familiar o desequilíbrio leva a mais tensão, falta de harmonia e aumento no nível de conflitos. Há um ditado popular que fala “que a dívida entra pela porta e o amor sai pela janela”. Hoje um dos motivos do aumento do número de divórcios é o descontrole financeiro. Há famílias que estão desfiguradas justamente por motivo de dinheiro.  No campo social o descontrole financeiro pode levar a pessoa ao isolamento, a depressão ou abre portas para algum vício. 

No que afeta o campo profissional? 
Como já disse é um sistema fechado que exige equilíbrio. No trabalho um colaborador que está inadimplente e preocupado com suas contas não desempenhará bem suas atribuições. Faltará atenção, foco e concentração. Tenderá a estar irritado e com a cabeça fora de seu trabalho, o foco estará nas contas desajustadas. Poderá entender que ganha mal, que necessita de um aumento salarial, e que a culpa de sua tragédia financeira é do patrão. Há ainda aqueles que ficam pedindo adiantamento ou mesmo os chamados vales para cobrir suas contas atrasadas. Já tivemos casos que o colaborador pede para ser mandado embora, entretanto fica trabalhando sem carteira assinada, isso somente para realizar o saque do FGTS e recebendo o seguro desemprego como um “plus” mensal para acertar suas contas. Porém isso é fraude e crime. Hoje as instituições querem profissionais que tragam soluções e não problemas.