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Três Lagoas

?Em algum momento teríamos que acordar?

Aquiles Nogueira é gerente administrativo da empresa Mabel de Três Lagoas

O entrevistado desta semana é o gerente administrativo da Mabel, Aquiles Nogueira. Ele afirma que o brasileiro finalmente está acordando para o desenvolvimento sustentável. “A gente está despertando para essa realidade. Poxa vida, os recursos naturais são limitados. Em algum momento nós teríamos que acordar. E está chegando esse momento”, afirma. Recentemente, a empresa onde ele trabalha conquistou o selo ISO 14001, que certifica a empresa com uma produção sustentável. Poucas empresas no País têm esse certificado.

 

JORNAL DO POVO – Porque é tão difícil as empresas conseguirem  o selo ISO 14001?

AQUILES NOGUEIRA – O selo ISSO 14001 é um selo que certifica a empresa com uma produção sustentável, uma produção que não agride o meio ambiente. Então é difícil porque envolve uma série de procedimentos que a empresa deve adotar no dia-a-dia. As dificuldades da empresa em obter esse certificado vão desde as lincenças ambientais, estarem totalmente legalizadas. Além disso a destinação dos resíduos. Esse é o principal componente.

JP – O que volta para o meio ambiente?

AN – Perfeitamente, de que forma volta para o meio ambiente. Quanto mais você conseguir reciclar, mais você vai evitar de retirar mais matéria-prima da natureza. Então, no nosso caso, para conseguirmos essa certificação, nós realizamos um grande trabalho em fechar todas as portas, nos precavendo de todos os lados, para garantir a sustentabilidade. Então, por exemplo, o biscoito que cai ao chão. Nós fizemos um trabalho para reciclá-lo. Ele é todo embalado e vendido para uma empresa que faz ração animal. Ou seja, já é uma parte da nossa produção que não vai para o lixo. Já os resíduos líquidos não são depositados diretamente no leito do rio. É feito um trabalho decantação desse material, onde é separado o resíduo mais sólido do resíduo líquido. Então ela volta com condições ideais de ser recebido novamente pela natureza.

JP – E o que sobra, para onde vai?

AN – O resíduo sólido que fica, que é segregado aqui, a gente faz a retirada dele. Ele é segregado, a gente faz a separação, faz a retirada mensal.

JP – E qual é a quantidade disso mais ou menos?

AN – Cerca de 20 toneladas por mês. Então essa matéria vai para uma empresa de Andradina, empresa que a Mabel paga para tratar esse resíduo.

JP – Paga para tratar esse resíduo?

AN – Exatamente. Paga para tratar o que ela não aproveita. Então todo o resíduo que se mistura com a água é separado e não deixamos que ele vá para o esgoto. Ele é separado mensalmente, enviado para essa empresa e transformado em adubo orgânico.

JP – E qual é o custo para vocês deste trabalho?

AN – A estimativa mensal é em torno de R$ 6 a 7 mil só para tratar esse resíduo sólido.

JP – Esse é um dos principais pontos que fez com que vocês conquistassem o selo da ecoeficiência?

AN – Exatamente. A empresa preocupada com a questão da sustentabilidade ela procurou no município, não achou, ela não satisfeita foi na região buscar uma empresa para dar destino final a esse resíduo.

JP – Essa preocupação ambiental da empresa tem um preço. Qual é esse custo para a empresa?

AN – Olha, por baixo, além de toda a equipe envolvida, a gente estima que em torno de R$ 15 mil por mês envolvido com o meio ambiente.

JP – Por que esse exemplo observado aqui em Três Lagoas é raro se verificar ainda no Brasil?

AN – Eu acho que o brasileiro está acordando. A gente está despertando para essa realidade. Poxa vida, os recursos naturais são limitados. Em algum momento nós teríamos que acordar. E está chegando esse momento. A Mabel preocupada com isso já saiu na frente, dando exemplo, inclusive quando escolheu Três Lagoas para montar toda essa estrutura, já passamos a ser referência. Os empresários começaram a ver que aqui tinha alguma coisa de interessante.

JP – E o que Três Lagoas tem de interessante?

AN – Tem muita coisa. Vamos colocar aqui a questão de logística. A posição da cidade é extremamente estratégica. Próximo do grande centro consumidor que é o estado de São Paulo e sua ligação com os demais estados, como da região Sul. A mão-de-obra na época foi o maior desafio. Como fomos pioneiro. O que muitas empresas estão sofrendo hoje, nós já passamos essa fase. Então nossa empresa se vê num outro estágio. Então, as empresas têm muito o que aprender com a Mabel.

JP – E o que a empresa espera do Poder Público nessa questão de desenvolvimento sustentável?

AN – O grande problema de Três Lagoas é a questão da reciclagem. Hoje nós não temos a destinação final do nosso lixo. No nosso caso, para conseguir esse certificado, foi um processo difícil, foi um trabalho árduo de conscientização interna dos nossos funcionários e da comunidade, estendido por meio das escolas.

Ou seja, estamos preocupados em levar isso para a população. Mudar uma cultura de um povo não é fácil. Algumas coisas já tÊm sido feitas em parceria com o município, como o projeto do Ecotroca, mas ainda falta essa preocupação de conscientização. Além disso, não adianta nada a população ter essa consciência, separar os lixos e não ocorrer a destinação correta do que for coletado.

Então o principal problema do município é isso aí. Esse é o caminho, não tem volta.