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Três Lagoas

?Esta experiência me ensina a dar mais valor à vida?

A entrevista da semana é com Adão José Alves, Diretor administrativo da Apae

A entrevista da semana é com o diretor administrativo da Associação dos Pais e Amigos do Excepcional (Apae) de Três Lagoas, Adão José Alves (54), que iniciou a vida como alfaiate, trabalhou na construção da Hidrelétrica de Jupiá, e se aposentou como funcionário da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em 1997. A partir daí, decidiu dedicar-se, como voluntário à Apae de Três Lagoas. “Cheguei à conclusão que estava na hora de fazer alguma coisa por aqueles que precisam da gente. Tive muita sorte na vida. Estava na hora de olhar também para os outros, que precisam muito mais do que eu”, disse na entrevista ao Jornal do Povo.
Nas últimas eleições municipais, foi convidado a se lançar candidato a vereador pelo PSDB. Foi eleito primeiro suplente, conquistando 763 votos, o 13º dos candidatos mais votados. “Seria uma oportunidade a mais de fazer ouvir as reivindicações da Apae, junto ao Poder Público”, disse. No entanto, quanto à possibilidade de assumir ainda nesta Legislatura, Adão é realista e não gosta de planejar a vida sobre “hipóteses”.

JP: Desde quando o senhor participa das atividades da Apae?

Adão: Sou nascido em Aparecida do Taboado. Vim para Três Lagoas ainda jovem, onde trabalhei como alfaiate até 1976, quando entrei na Cesp, na construção da barragem de Jupiá. Aposentei-me em 1997, quando cheguei à conclusão que estava na hora de fazer alguma coisa por aqueles que precisam da gente. Tive muita sorte na vida. Estava na hora de olhar também para os outros, que precisam muito mais do que eu. Antes disso, já participava como voluntário, acompanhando os trabalhos de minha esposa Giselda, que trabalha na Apae desde 1984.

JP: Quando começou a fazer parte da diretoria da Apae?

Adão: Quando era presidente a professora Ana Maria Previato, eu fazia parte como diretor de patrimônio. Durante a sua gestão, ela vivia me dizendo que eu seria o próximo presidente. Não acreditava, mas fui eleito em 2002 e acabei ficando até 2007. Hoje, continuo aqui como diretor administrativo da Apae.

JP: O que significa a Apae para o senhor, já que tem dedicado parte de sua vida aos portadores de necessidades especiais?

Adão: Isto aqui tem sido uma escola para mim. É uma valiosa experiência, que tem me ensinado a dar mais valor à vida. Estas crianças, jovens e adultos fazem parte de uma sociedade desprovida do mal, apesar das deficiências que carregam. Não têm a maldade que nós temos, são sinceras e extremamente carinhosas entre elas, quando se relacionam com pessoas que as acolhem e tentam compreendê-las e aceitá-las como elas são. Todos os dias aprendo novas lições de vida, vendo o sofrimento destas pessoas. Para quem reclama da vida, sem razão, aconselho a visitar a escola da Apae e ficar aqui algumas horas. Tenho certeza que essa pessoa sairá daqui envergonhada por reclamar tanto de barriga cheia.

JP: Qual foi a transformação que a Apae fez na sua vida?

Adão: Como eu digo sempre, isto aqui é uma escola de vida para nós todos, que aqui trabalhamos como funcionários ou como voluntários. Não tenho vergonha de dizer isso sempre. É gratificante trabalhar na Apae, porque aqui, mais do que a gente ensina, a gente aprende. Na Cesp, eu era uma pessoa tímida, envergonhada, fechada em mim mesmo. A vida toda sempre fui desse jeito. Não gostava de participar de nada, vivia isolado. Desde quando comecei a participar das atividades da Apae, comecei logo a sentir mudanças incríveis em mim, que até eu me surpreendia e as pessoas que me conheciam também estranharam. Era tímido, calado e tinha até vergonha de mim mesmo. Hoje mudei e sou corajoso, principalmente, quando preciso pedir alguma coisa, ou falar em público em nome deles. Por este pessoal que está aqui, eu sou capaz de fazer de tudo.

JP: Foi graças à Apae, que o senhor decidiu também partir para a política?

Adão: Até há bem pouco tempo não pensava na importância da política para a Apae, até que abri os olhos para essa necessidade. Em 1998, decidi, atendendo a convites, filiar-me em um partido político, o PSDB. Nas últimas eleições, conseguiram também convencer-me a ser candidato a vereador. Fiz uma campanha simples e fui eleito suplente do PSDB, com 763 votos. A política é uma oportunidade a mais, que posso ter, para ajudar a Apae. Como vereador, poderei ter mais acesso e força para reivindicar junto à Prefeitura e demais órgãos públicos estaduais e até federais.

JP: O senhor está entre os sete suplentes que poderão, ainda nesta Legislatura, assumir uma cadeira na Câmara Municipal. O que o senhor pensa fazer, de imediato, quando assumir?

Adão: Não tenho ainda projetos definidos de trabalho, mesmo porque percebo que não será fácil para os suplentes conseguir entrar. Costumo não alimentar esperanças sobre hipóteses que venham a acontecer. A vida me ensinou a correr atrás do que é possível e real, não sobre o que possa vir a acontecer. Só tenho uma certeza: o pessoal pode contar comigo. Enquanto viver, a Apae pode contar com o meu apoio.

JP: Em todos estes anos de relacionamento com portadores de necessidades especiais, o que mais o emociona?

Adão: O que sempre me toca os sentimentos é ver as mães destas crianças, jovens, adolescentes e até adultos. Emociona-me a dedicação sem limites, a garra, a fidelidade e a persistência delas. Atrás de um coração triste e doído, ao verem os filhos com problemas, elas demonstram coragem, tenacidade com muito carinho, dedicação e resignação. Isso é uma escola. Poderia citar aqui muitos exemplos de mães. Mas sempre me emociono quando vejo a dona Cecília Guimarães de Lima, mãe de dois filhos especiais. O Cristiano faleceu há pouco tempo, com 23 anos de idade. Ele sofria de paralisia cerebral. Para tudo dependia da mãe, que o carregava ao colo de um lado para o outro, mesmo sendo fraquinha e magrinha. Ela esteve sempre presente, até os últimos momentos da vida do filho. O Francisco Alberto também precisa da ajuda e presença da mãe. Ele está hoje com 36 anos. Na maioria das mães da Apae eu tiro exemplos de dedicação. Ao vê-las, sempre me emociono, porque me dão lições de vida.

JP: A comunidade de Três Lagoas é solidária com a Apae?

Adão: Não podemos reclamar. Pelo contrário, a comunidade sempre demonstrou carinho e atenção com a nossa Apae. No decorrer dos anos, sempre tivemos demonstrações positivas dessa solidariedade e apoio. Há menos de dois anos, lançamos a campanha “Hidrate essa Idéia”. A pessoa colabora com determinada quantia junto com a conta de água. Já conseguimos com isso trocar a nossa Kombi, que era de 199, por uma de 2009. Compramos também um ônibus, ano 2000, por R$ 60 mil, com elevador para cadeirantes. Foi tudo com o dinheiro arrecadado com essa campanha. Antigamente era mais difícil, agora contamos também com o apoio da Prefeitura, que nos cedeu o Terminal Rodoviário e está sempre pronta a nos ajudar.

JP: Quando irão começar as obras de construção da nova escola da Apae?

Adão: A Câmara Municipal já aprovou a doação da área, em frente à regional do Detran. O projeto está na Prefeitura para aprovação. Acreditamos que iremos gastar em torno de quase R$ 4 milhões em todo o projeto. Acreditamos que iremos conseguir chegar ao fim, porque contamos com o apoio de toda a comunidade. Neste ano, a Câmara Municipal nos doou R$ 500 mil, especificamente para a obra. O dinheiro será muito importante para o início da obra. Temos esperança que até junho do próximo ano, por ocasião do aniversário da Cidade, a gente esteja já inaugurando a primeira parte do projeto que é grande e irá atender às importantes atividades da Apae.

JP: Quantos trabalham hoje na Apae?

Adão: Temos uma equipe de 75 funcionários, sem contar as dinâmicas equipes de voluntariado, que prestam serviços exemplares à Apae. Não podemos esquecer a valiosa e importante contribuição do Clube de Mães e também do chamado Grupo de Apoio, que partilha as experiências de vida, convivendo com os portadores de necessidades especiais. Nas reuniões desse Grupo de Apoio ouvimos verdadeiras e emocionantes histórias de vida. Essa partilha é fundamental, principalmente, quando as mães são pegas de surpresa, ao saberem que o seu filho é especial e não estão preparadas para enfrentar essa realidade.