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Extradição de ex-major de MS será analisada pela ministra da Justiça da Hungria

Sérgio Roberto de Carvalho prestou depoimento à justiça húngara nesta quinta (23)

Sérgio Roberto de Carvalho diante do Tribunal húngaro, em junho - AFP
Sérgio Roberto de Carvalho diante do Tribunal húngaro, em junho - AFP

O ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, de 64 anos, compareceu nesta quinta-feira (23) perante um tribunal na Hungria e tentou evitar a extradição para o Brasil. Ele foi preso na última terça-feira em um hotel, na capital Budapeste, numa ação de cooperação internacional por meio da unidade de Apoio à Investigação de Fugitivos da Interpol, que facilitou a troca de informações em três continentes, incluindo detalhes de possíveis documentos de viagem e pseudônimos usados por Carvalho no período em que esteve foragido.

Durante a audiência, o juiz responsável pelo caso reafirmou que a prisão dele foi realizada a partir de um alerta vermelho da Interpol emitido por um tribunal brasileiro, em novembro de 2020 e, com base nessa notificação, citou que o preso é acusado de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, fraude documental e homicídio, com fortes ligações ao crime organizado.

Carvalho afirmou em depoimento que o processo contra ele se deu por motivos políticos. Já a defesa dele argumentou que no Brasil o ex-major não teria um julgamento justo. "Tenho que enfatizar que meu cliente era um oficial da polícia militar brasileira e, assim, sua vida do outro lado não seria garantida nem por um minuto. Sua extradição seria igual como sua pena de morte", disse o advogado Mihaly Riedler.

Judit Varga, ministra da Justiça da HungriaJudit Varga, ministra da Justiça da Hungria – crédito: kormany.hu

O magistrado optou por prolongar a detenção de Sérgio Roberto de Carvalho até o dia 2 de agosto e deixou a decisão final sobre a possível extradição do brasileiro para a ministra da Justiça da Hungria, Judit Varga. Ao menos outros dois países reclamam a extradição de Carvalho para responder pelos crimes praticados em terras estrangeiras, Espanha e Portugal.

Esta semana, um dia após a prisão, a polícia húngara disse numa coletiva à imprensa que foi avisada por parceiros  internacionais de que ele estava no país, mas que a investigação foi dificultada porque o acusado tinha 10 documentos de identidade diferentes.

Um jornalista português teria sido fundamental para a descoberta e prisão de Carvalho, considerado o maior narcotraficante da atualidade, sendo conhecido internacionalmente como o "Pablo Escobar brasileiro". Sérgio Roberto de Carvalho teve a identidade confirmada por meio das impressões digitais, já que teria se apresentado como cidadão mexicano com um passaporte falso em nome de Guilhermo Diaz Flores, no momento da prisão em Budapeste.

O secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, declarou que “Este é outro exemplo de policiamento internacional bem-sucedido". No Brasil, a ordem de prisão de Carvalho havia sido emitida no âmbito da Operação "Enterprise", da Polícia Federal, que permitiu o confisco de mais de R$ 500 milhões da organização criminosa liderada pelo ex-PM. 

HISTÓRICO DE CRIMES

Sua carreira criminosa teria começado ainda nos anos 80, após ingressar para a Polícia Militar, sendo os primeiros passos fora da lei detectados em 1988 com o contrabando de pneus.

Major Carvalho, como era conhecido, inicialmente comprou cocaína na Colômbia e na Bolívia, traficando para o Brasil em aviões e usando pistas clandestinas. Em 1997 teria perdido duas aeronaves em acidentes, uma na Bolívia e uma na Colômbia.

Naquele mesmo ano foi flagrado transportando mais de duzentos quilos de cocaína. Chegou a ser condenado à prisão e foi acusado de corromper um juiz. No Presídio Militar de Campo Grande, na cela dele, foram encontrados US$ 180 mil em espécie, um aparelho de fax e um GPS.  Quando conseguiu sair da prisão, Carvalho se envolveu com a adulteração de combustível e passou a diversificar os negócios ilegais com máquinas caça-níqueis e dois cassinos. 

Carvalho foi alvo das operações Xeque-Mate da Polícia Federal e Las Vegas, do Gaeco, ambas deflagradas em Mato Grosso do Sul.  No início dos anos 2000, passou a atuar na Europa com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Em pouco tempo estava novamente na mira da Polícia Federal que já havia descoberto a logística que ele havia projetado nos portos de Paranaguá-PR e Santos-SP, de onde exportava cocaína para a Bélgica, Holanda, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e França.

Em 2017 mudou a identidade e desembarcou em Marbella, na Espanha, com o nome de Paul Wuoter, fingindo ser um empresário holandês nascido no Suriname. Com uma empresa criada em Dubai, adquiriu imóveis em Lisboa e chegou a comprar uma casa por dois milhões de euros. Carvalho também seria proprietário de uma empresa de jatos particulares.

O ex-policial militar é apontado como o eixo de várias organizações criminosas por ter conseguido introduzir cocaína na Europa, Ásia e África. O ex-major ainda é acusado de forjar a própria morte para escapar da justiça europeia, onde responde a processos criminais em vários países.