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Entrevista

'Falta de informação gera submundo'

Vice-presidente da Associação de Alzheimer no Estado, Marco Polo Siebra, critica assistência pública a portadores da doença

A doença de Alzheimer é responsável por 70% dos casos de demência na terceira idade, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em todo o mundo, aproximadamente, 50 milhões de pessoas sofrem com a doença e, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050, esse número deve triplicar e chegar aos 150 milhões. No Brasil, a estimativa é de que 1,2 milhão de pessoas com mais de 65 anos são atingidas pelo Alzheimer. 

Segundo o odontogeriatra e vice-presidente regional da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) no Estado, Marco Polo Siebra, Mato Grosso do Sul enfrenta dificuldades no tratamento dessa doença e municípios do interior estão em situação desfavorável. “(…) eu sempre recebo ligação de pessoal de Coxim, de Nioaque, de Porto Murtinho, que estão passando coisas até de submundo por conta da falta de informação e, principalmente, da falta de uma assistência pública efetiva”, explica.

Jornal do Povo – Em 21 de setembro é comemorado o Dia Mundial do Alzheimer. Qual a importância de abordar o tema?
Marco Polo Siebra – Desde 2010, instituiu-se, mundialmente, setembro como mês mundial do Alzheimer, porque a doença vem aumentando de forma gigantesca. Hoje, nós temos dados estatísticos que comprovam que, a cada três segundos, um diagnóstico de demência é feito no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2017, a ONU instituiu um plano global de demência, que pede para que todos os países que pertençam à Organização Mundial de Saúde (OMS) comecem a tomar providências até 2025 para direcionar atenção aos familiares e pessoas com Alzheimer. 

JP – Quais são as metas estabelecidas pela ONU?
Siebra – São metas que visam a conscientização da demência, a redução do risco, o diagnóstico precoce, cuidados no tratamento, que seria para a própria pessoa com a doença, suporte para parceiros de cuidados e pesquisa. Deveríamos ter programas [na rede pública de saúde] para pessoas com demência, assim como temos para diabetes. Porque, é uma das patologias que é a mais cara para a população e [as pessoas com Alzheimer] estão totalmente desassistidas. 

JP – Quanto seria um tratamento para o Alzheimer?
Siebra – Não dá para quantificar em números porque isso depende muito do processo de envelhecimento de cada um. Mas eu te adianto que é a única patologia, a única doença, que exige um cuidador 24 horas [por dia]. E hoje, a gente sabe que um cuidador profissional não pode ter uma sobrecarga de 8 horas [diárias]. Mesmo se for um familiar. Se ele tem uma sobrecarga de 8 horas, com o tempo, ele vai ser submetido a um estresse. 

JP – Em Mato Grosso do Sul há a regional da Associação Brasileira de Alzheimer. Como ela funciona?
Siebra – A Abraz existe para poder dar suporte, orientação e informações para os familiares. É uma associação sem fins lucrativos, nós não temos renda para nada, vivemos totalmente, de doações. Os nossos trabalhos são totalmente voluntários. Temos um grupo de apoio de três tipos que são informativo, social e emocional. Familiares e cuidadores são acolhidos e passam por orientações e informações de como lidar com a demência no seu dia a dia. Principalmente, porque a demência, o Alzheimer, se divide em três fases. Uma fase inicial, uma moderada e uma avançada. E, dentro disso, a gente vai auxiliando a família, os cuidadores a construir uma rotina no seu dia a dia com a pessoa que tem a doença. 

JP – A Abraz atende famílias em todo o estado?
Siebra – Hoje, eu tenho uma certa inquietude porque meu objetivo é a Abraz estar no estado inteiro. Eu tenho conseguido fazer o trabalho só em Campo Grande mas, o objetivo é levar a Abraz para o estado inteiro, porque eu sempre recebo ligação de pessoal de Coxim, de Nioaque, de Porto Murtinho, que estão passando coisas, até de submundo por conta da falta de informação e, principalmente, da falta de uma assistência pública efetiva. Na verdade, se formos olhar, o poder público está totalmente negligente e cego com o processo de envelhecimento.