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Três Lagoas

Ferroviários cruzam braços e prejudicam exportações

Greve foi desencadeada nesta segunda-feira (21) e conta com o apoio de 82% dos trabalhadores

Os ferroviários da América Latina Logística (ALL) cruzaram os braços nesta segunda-feira (31) e desencadearam aquela que pode ser a maior greve registrada nos últimos 15 anos. A paralisação – que deverá praticamente fechar dois corredores de exportação do País – foi decidida no início de agosto, em assembléias realizadas nos dias 8 e 12, com voto secreto, e visa forçar a ALL a aceitar a campanha salarial, proposta em novembro do ano passado.

De acordo com o sindicalista Roberval Duarte Placce, a expectativa do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul é de uma adesão de 85% a 90% dos 1,5 mil profissionais atuantes em todo o Brasil. Em Mato Grosso do Sul, são em torno de 600 ferroviários, sendo uma média de 50 a 60 deles, atuando apenas em Três Lagoas.

A paralisação deverá comprometer diretamente no abastecimento de combustíveis e exportação de grãos no Estado. No caso mais específico de Três Lagoas, a paralisação da exportação de celulose – da empresa Votorantim Celulose Papel (VCP), que passou a se chamar Fibria -, além de minérios (em Corumbá). “Por dia, passam por Três Lagoas mais de dois trens carregados de soja e combustíveis. Isto sem contar a exportação de celulose, que é quase constante”, destacou.

Placce explicou que a mobilização visa discutir o reajuste salarial e jornada de trabalho. “Estamos pedindo um reajuste de R$ 6,45% de reposição, mais R$ 6% de ganho real. Além disso, se faz necessária a implantação de uma jornada digna de trabalho. Há ferroviários trabalhando uma média de 12 a até 20 horas diárias, sendo que o ideal seria 6 horas”, completou.

O sindicalista conta que o aumento na jornada de trabalho se deve à redução de ferroviários. Até 2006, Três Lagoas contava com uma média de 38 a 40 equipes trabalhando, “e já era reduzido”, destaca. Hoje, a estimativa é de menos de 20 equipes para atender toda a região. “E estamos falando de malhas antigas e um fluxo bem maior de trens. O ferroviário está escasso”, disse.

Segundo a assessoria do sindicato, a ALL só aceita conceder reajuste de 28% aos maquinistas, mas com a condição de elevar a jornada de trabalho de seis para oito horas diárias.

A paralisação também servirá para discutir a possível implantação da “Monocondução” em todo o País. Conforme Placce, a medida, que visa apenas um maquinista em um trem, teria sido apresentada como meta da ALL. O sindicalista dispara: “Fazer com que um maquinista fique sozinho em um trem por mais de 15 horas, sem ao menos poder comer, sem ter ajuda e com quem conversar é desumano”, disse. O sindicalista completou dizendo que duas mortes por causas naturais – infarto – já foram registradas dentro das locomotivas por falta de atendimento.

A maior greve dos ferroviários aconteceu no início da década de 90, quando boa parte dos 40 mil ferroviários do Brasil cruzaram os braços. “Hoje, não temos 10 mil no País”, completou. Conforme o Sindicato, não há previsão para o término da greve.