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Três Lagoas

Narcóticos Anônimos divulga ações do grupo

São mais de 30 mil reuniões semanais em mais de 100 países

Ao ser informada de que havia alguém do grupo Narcóticos Anônimos de Três Lagoas esperando na recepção, imaginei – como que num reflexo – que se tratava de um pedido de divulgação de uma ação, ou projeto, mas estava errada. Ao chegar na recepção encontrei um rapaz, jovem, que aparentava ter idade bastante inferior à real, disposto a cumprir o 12º passo do programa do NA: divulgar o trabalho do grupo e tentar conscientizar mais dependentes a procurar ajuda.
Pedro, codinome escolhido pelo próprio entrevistado, trazia nas mãos cerca de 500 panfletos com informações sobre o N.A. (Narcóticos Anônimos). No papel, um deles entregue à repórter, estava uma pergunta, seguida de uma resposta: “Drogas? Se você quiser parar, podemos ajudar”.
Para o entrevistado, este é, antes de tudo, o primeiro passo para controlar a dependência: querer parar de usar drogas – e também um dos mais difíceis, segundo ele. Foram quase de dez anos de luta contra a aceitação. Pedro começou usar drogas aos 15 anos. Pelos mesmos motivos que leva a maioria dos jovens entrarem no mundo das drogas: curiosidade e modismo. No começo, conta ele, era bom. Não fazia mal. “Tive que me ver perdendo tudo o que tinha, família;  ficar dois a três dias desaparecido em bocas. Tive que me ver se desfazendo de tudo para manter o vício para admitir a realidade: eu era um doente de drogas”, declarou.
Mas foi em um centro de reabilitação que ele conheceu o trabalho do NA e em setembro do ano passado ingressou no grupo. “Conheci o trabalho do NA durante a minha última internação. Quando fui, confesso que estava desacreditado, mas hoje, confio em 100% no trabalho do grupo. É difícil, tem que ter fé – independente de credos -, tem que aceitar o problema, se conseguir cumprir este primeiro passo, os outros se tornam mais fáceis. Tem que ter consciência de que perdeu para as drogas”.
O entrevistado informou que não adianta a interferência dos pais. “Tem que partir da pessoa. Já vimos pais desesperados, procurando ajuda para seus filhos, forçando-os a participar das reuniões. Entendemos o desespero, mas a iniciativa deve partir do dependente”. O ideal para os pais, explica Pedro, é que seja reconstituído o grupo Amor Exigente em Três Lagoas – destinado exclusivamente à reuniões para pais de dependentes. O programa já funcionou no Município, mas atualmente está desativado. Hoje, apenas a cidade de Andradina (SP) conta com o grupo de apoio aos pais. “A família acaba se tornando uma co-dependente. Ela sofre junto com o filho. Daí a importância do Amor Exigente. Eles (grupo) acordam os pais”.

GRUPO

Atualmente, sete pessoas compõem o NA de Três Lagoas. A organização não governamental promove reuniões nas quartas e sextas, das 19h às 21 horas, em uma sala na igreja Santa Rita de Cássia (avenida Eloy Chaves, 2194, Vila Nova). “Qualquer pessoa pode nos procurar, desde que esteja disposta a parar e limpo (sem ter consumido entorpecentes)”.
Ao contrário da maioria das instituições, na Narcóticos Anônimos não há cargos de chefia. Segundo Pedro, todos são iguais. “São sete pessoas com os mesmos problemas trocando experiências de vida e dando força uns aos outros. Esta troca é essencial. Já que raramente um dependente irá encontrar um semelhante, que o entenda realmente. Lá [N.A] isto é possível”, disse.
Recaídas também não são discriminadas pelo grupo. “A maioria teve recaídas. Para mim, por exemplo, foi uma experiência a mais. Foi na minha recaída que tive a certeza da eficácia do programa. Não conseguia parar de usar e isto me deixou muito mal. Depois disso, vi que o N.A. faz diferença, hoje tenho auto controle. Hoje sou um adicto (novo termo usado para a dependência química) em recuperação e serei um adicto em recuperação para o resto da minha vida”.
Embora funcione em uma igreja, Pedro garante que a organização não está ligada a credos. “O N.A. é uma instituição auto-sustentável, sem fins lucrativos e ligação religiosa. Não podemos aceitar doações, por exemplo. Todas as ações são custeadas pelos próprios integrantes do grupo. Estamos procurando outro local para as nossas reuniões, mas o custo ainda nos impede”, explicou.
A Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária composta por adictos em recuperação. O movimento foi criado em 1953, aproximadamente, é se tornou um dos maiores e mais antigos de todo o mundo. Hoje, são mais de 30 mil reuniões semanais em mais de 100 países.  As informações sobre o programa estão disponíveis no site oficial da NA (
www.na.org.br), ou pelo telefone (67) 8155 2282, linha de ajuda. Os interessados também podem procurar o grupo três-lagoense nos dias de reunião.