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Três Lagoas

Novo Semi-aberto corre risco de ficar vazio

A medida pode ser tomada pelo Judiciário, caso a Agepen não construa um galpão de trabalho para os internos

O presídio de Regime Semi-aberto, em fase de construção na avenida Rafael de Haro, próximo à rotatória da BR-262, corre o risco de ser inaugurado sem presos. De acordo com o juiz Eduardo Floriano Almeida, que até sexta-feira (31), respondia como substituto na Vara das Execuções Penais, a transferência dos internos da unidade penal, que hoje estão em uma residência alugada pelo governo estadual, poderá ser negada caso a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) não construa um galpão de trabalho para que os internos trabalhem sem deixar a unidade penal.

A ausência do galpão de trabalho foi detectada em uma visita recente do juiz e do promotor José Luiz Rodrigues, da Promotoria da Criança e do Adolescente, à obra.

Ele explicou que, desde a interdição do presídio semi-aberto – no segundo semestre do ano passado – a intenção do Judiciário era de montar uma Colônia Penal Industrial, como prevê o Código Penal Brasileiro, para o cumprimento da pena em regime semi-aberto. O objetivo é levar a empresa para dentro da unidade penal e fazer com que os internos trabalhem sem sair do presídio. No entanto, sem a implantação do galpão, onde seriam instaladas oficinas, esta medida não poderá ser implantada.

 “Existe um desentendimento, uma falta de informação, no que se refere à progressão de pena. Pelo Código Penal Brasileiro, aquele que foi condenado passa por três etapas antes de ser colocado em liberdade: regime fechado, semi-aberto e aberto. Porém, pela falta de estrutura do sistema prisional do Estado, isto não se aplica na comarca de Três Lagoas”, disparou.

Pelo Código Penal, o regime que determina a saída dos presos durante o dia é o aberto. As unidades penais de regime semi-aberto são apenas duas: Colônia Agrícola ou Industrial. Infelizmente, tal regra não se aplica ao sistema penal do Município. Sem estrutura suficiente para a realização de trabalhos dentro da própria unidade penal, os presos “pulam” uma etapa da progressão, saltando do fechado diretamente para aquele que seria o regime aberto do cumprimento da pena, saindo todos os dias para trabalhar e retornando apenas para dormir, alertou o Juiz.

“Uma etapa é pulada e eles [internos] sabem disto. O que temos aqui seria na verdade uma casa de albergados. Uma casa abarrotada de internos, com beliches para todos os lados. Só ficam ali, aqueles que não comprovarem trabalho”, completou.

Conforme o juiz, tal “salto” contribui diretamente para o aumento da violência no Município. Ele explica que não existe um estudo específico sobre crimes praticados por internos do semi-aberto. “Mas basta olhar a violência que a Cidade vem enfrentando e estes crimes são praticados por gente daqui, alguns deles, por internos do semi-aberto”, destacou.

Atualmente, 500 presos cumprem pena na Penitenciária de Segurança Média de Três Lagoas. Deste total, 360 são da Cidade. O restante é transferido diretamente para seus respectivos municípios assim que conquistada a progressão para o regime semi-aberto. Floriano explica também que, além do fato de que todos os internos do presídio semi-aberto serem de Três Lagoas, o índice de reincidência por evasão do regime é grande. O juiz informou não ter dados sobre evasão, entretanto, em um levantamento realizado pelo Poder Judiciário às vésperas da interdição – determinada pelo até então juiz da Vara de Execuções Penais, Renato Antonio de Liberali – apontava que nos primeiros meses do ano passado, o presídio registrou 240 evasões no semi-aberto, praticamente o dobro de internos existentes no local.

“Se estes internos ficassem na unidade e cumprissem todas as etapas, estes índices, certamente, seriam menores”, destacou.

Até sexta-feira (31 de julho), o presídio semi-aberto abrigava um total de 102 internos. Destes, mais de 90% tinham autorização para sair da unidade por meio de atestados de trabalho.

“O Poder Judiciário não pode, por exemplo, exigir ou determinar quais são as obras que devem ser feitas pelo Executivo. Temos ciência do que está sendo feito. Até mesmo por uma questão de respeito ao Judiciário, o Estado nos mantém informado, mas não podemos questionar a obra. O que pode ser feito, após o término das obras, é autorizar, ou não, a transferência dos internos”. A decisão deverá ser tomada pela juíza Rosângela Alves de Lima Favero, titular da 1ª Vara Criminal e de Execuções Penais, que retomou os trabalhos nesta semana.

O estado de Mato Grosso do Sul mantém apenas uma Colônia Penal Agrícola, na Capital, que já enfrentou problemas disciplinares. A situação ainda é pior nos municípios do interior, onde os presos têm que cumprir pena nas cadeias das Delegacias.

PRORROGAÇÃO

Segundo o juiz Floriano, o pedido para a construção do galpão industrial deverá ser encaminhado à Agepen juntamente com a resposta ao pedido de prorrogação da conclusão da obra. A inauguração do semi-aberto, que estava prevista para setembro, agora foi prorrogada por mais 120 dias.

As obras tiveram início no dia 30 de agosto do ano passado. Desde então, os internos são mantidos, provisoriamente, em uma casa adaptada. A obra conta com um investimento de pouco mais de R$ 1,7 milhão. O novo estabelecimento penal conta com uma área de 8,1 mil m² e cerca de 300 m² de área construída, divididos em: quatro blocos – administração, casa da guarda, salão de múltiplo uso com refeitório e alojamentos. Entre as instalações constam ainda hall de acesso, sanitários públicos, recepção, salas específicas para triagem e revista, sala para advogados, sala de diretor, copa, circulação coberta, alojamento e banheiro adaptado a pessoas com necessidades especiais, enfermaria e lavanderia. A nova unidade terá capacidade para cerca de 300 internos.