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Três Lagoas

?O Estado é falho com educação e policiamento?

Entrevistado: Sylvio Costa Jardim ? Delegado da Polícia Rodoviária Federal de Três Lagoas

O entrevistado da semana é o delegado da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Três Lagoas, Sylvio Costa Jardim, 42 anos, 15 anos de profissão e dois anos e oito meses em cargo de chefia no município. Avaliando o crescimento do município aliado ao aumento da criminalidade e dos acidentes envolvendo o trânsito, ele é pontual e incisivo em afirmar “todo esse crescimento já estava programado para acontecer, só acredito que faltou investimentos em infra-estrutura por parte dos órgãos públicos. O Estado é falho com educação e policiamento. A Federação foi falha por não dar condições financeiras para o Estado e consequentemente para o município, e dessa forma administrarem o crescimento de Três Lagoas”. Durante a entrevista fez uma avaliação sobre um ano de Lei Seca no município, também confirmou que Três Lagoas é uma das rotas da droga.

JP – Como o inspetor avalia o crescimento do município aliado ao aumento da criminalidade e dos acidentes envolvendo o trânsito?

SC – Todo esse crescimento já estava programado para acontecer, só acredito que faltou investimentos em infra-estrutura por parte dos órgãos públicos. O Estado é falho com educação e policiamento. A Federação foi falha por não dar condições financeiras para o Estado e consequentemente para o município, e dessa forma administrarem o crescimento de Três Lagoas. Vejo uma coisa freqüente acontecendo que é a doação de viaturas para o Polícia Civil de Militar, mas de que adianta encher os órgãos de viaturas se eles não possuem homens para trabalhar?

JP – O tráfego de veículos aumenta gradativamente nas rodovias que passam por Três Lagoas. Quando exatamente começou a ocorrer esse “boom” de fluxo intenso?

SC – Esse processo começou a ocorrer há uns cinco anos atrás. Lembro que antes desse período, na área rural o tráfego diário não passava de dois mil veículos, hoje passam diariamente naquela região cerca de cinco mil veículos. Já no perímetro urbano, há cinco anos atrás, trafegava de três a quatro mil veículos diariamente, hoje chega-se a 12 mil.

JP – Qual foi a causa desse aumento considerável do fluxo de veículos passando pela região?

SC – O principal motivo seria o desenvolvimento industrial de Três Lagoas. Outra causa foi grandes investimentos na BR 262 em questão de conservação e manutenção. Na área urbana houve investimento no quesito prestação de serviços. Já na área rural o eixo rodoviário entre dois pólos industriais “Três Lagoas – Campo Grande” melhorou bastante, tornando-se rota preferencial dos veículos.


JP – Qual o principal desafio da PRF?

SC – Com certeza conciliar necessidades de trânsito como um todo, que envolve fiscalização de trânsito, combate à criminalidade, redução do número de acidentes. O efetivo é muito aquém daquilo que precisaríamos para atender todas as necessidades.

JP – O que seria ideal para atender essas necessidades?

SC – O ideal para Três Lagoas hoje seria um quadro de no mínimo 60 policiais, trabalhando efetivamente nas pistas.

JP – Qual a realidade de efetivo da PRF?

SC – Hoje o efetivo da pista são 29, muito distante do ideal.


JP – A Lei Seca está completando um ano de vigor. Em Três Lagoas essa lei funciona?

SC – Aqui funciona sim. Tivemos um período que fizemos de 30 a 40 testes do bafômetro por dia. Isso aconteceu maciçamente em três meses, um projeto da polícia. Aqueles flagrados acima do limite de álcool permitido no sangue ou foram autuados, considerado crime. Os que se recusaram a fazer o teste, asseguramos o direito de negação e encaminhamos para exame médico. CNHs foram recolhidas, o veículo só foi entregue para pessoas nas devidas condições para dirigi-lo.

Encaminhamos CNHs para o Detran. Abordagens continuam acontecendo, no entanto houve uma redução considerável de pessoas flagradas conduzindo veículos neste estado. Ocorrências diminuíram de março para cá. O que temos observado e é uma realidade nacional, é que os homens têm se preservado mais e houve um elevação no número de mulheres, flagradas dirigindo sob efeito do álcool.

JP – O delegado acredita que esse número reduziu porque as pessoas deixaram de dirigir sob o efeito do álcool ou elas acharam novos atalhos para desviarem da fiscalização policial?

SC – Nós gostaríamos de acreditar que as pessoas estão tomando consciência, agora se eles descobrem novas rotas para nos despistar não tenho como afirmar (risos).

JP – A Polícia Rodoviária Federal só atua nas rodovias ou também atua no perímetro urbano que não pertence às BRs?

SC – Nossa obrigação é trabalhar nas pistas, ou seja, nas rodovias. Em alguns casos ainda saímos fora da área nossa atuação, no caso de alguma perseguição.

JP – Se tratando da rota da droga, Três Lagoas é o caminho?

SC – É uma das rotas, não podemos omitir o conhecimento do Estado em saber que Três Lagoas é um dos caminhos para a passagem de entorpecentes, assim com Bataguassu, Paranaíba. A BR 262 vai parar em Corumbá, divisa da Bolívia. A BR 267 começa em Bataguassu e vai parar em Ponta Porã. O Estado tem conhecimento e tem fiscalizado para intimidar o tráfico.

O principal trabalho do Estado é o do serviço de inteligência, em conjunto com a Promotoria Pública, Polícia Federal, e Polícia Civil. Esse serviço reservado tem passado informações de grande importância para as esferas de segurança pública. Por isso acredito que é essencial um investimento maciço na Polícia Civil.

JP – Qual a forma mais perigosa para transportar entorpecentes encontradas nas fiscalizações da PRF?

SC – Certamente é o que chamamos de “mula”, que carrega pequenas quantidades de drogas mais caras, levadas em drágeas, embalagens de 12 e 13 gramas dentro do estômago.

Pegam um ônibus, ou carona e tentam passar com essa cocaína no estômago sentido a grandes centros. No total carregam de 300 a 400 gramas. Os “mulas” correm o risco de morrerem com a abertura dessas cápsulas no estômago.