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Três Lagoas

Pesquisadora deficiente auditiva defende na UFMS tese de mestrado

Para examinadora, dissertação tem relevância social, acadêmica e pessoal

Na tarde desta terça-feira, 7, a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) campus Três Lagoas foi palco para a apresentação de uma tese inédita de mestrado, quando a professora de língua portuguesa, Eliane Francisca Alves da Silva, apresentou a sua tese intitulada “A aprendizagem de português por sujeitos surdos falantes de libras: entre discursos e identidades”, orientada pela professora doutora, Vânia Maria Lescano Guerra.

O trabalho, que teve início em 2013, tem como objetivo analisar o uso da língua portuguesa por sujeitos surdos quanto às questões gramaticais presentes nas duas línguas – a portuguesa e de libras. “O deficiente auditivo tem dificuldade em obedecer às normas gramaticais do idioma, no entanto, a comunicação é feita entre aquele que é o que não é surdo”, conceitua Eliane. A professora que obteve o título de mestre, é deficiente auditiva desde os seis anos de idade e faz o uso de aparelho auditivo, mas não tem a fala prejudicada.

Desta forma, a mestranda salienta que as pessoas devam entender que libras é a língua materna do surdo. Além disso, a disciplina de libras deveria estar presente na grade escolar. “A escola quer que o deficiente auditivo seja atendido igualmente aos demais, mas ele não é igual. É justamente sobre esse fato que Eliane discorre em sua dissertação. O surdo é diferente, daí a necessidade de se respeitar o diferente”, complementa a orientadora.

INÉDITO

Conforme Vânia Maria Guerra, este é o primeiro trabalho desta natureza desenvolvido na região Centro-Oeste do país em uma universidade federal. “Primeira mestranda surda que defende sua tese, cujo tema envolve justamente os deficientes auditivos”, destaca.

A banca examinadora foi composta pela professora doutora Rosemere de Almeida, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e pela doutora Marlene Durigan, da UFMS, além da orientadora professora doutora, Vânia Guerra. De acordo com a professora Marlene Durigan, a relevância do trabalho desenvolvido pela aluna atinge além da academia. Atinge a sociedade como um todo, que muitas vezes marginaliza o deficiente, a política e a própria autora da pesquisa. “O surdo pode aprender a língua portuguesa, pode estabelecer a comunicação com o meio que o cerca. A Eliane conseguiu romper com o mito de que o deficiente não pode ter ação na sociedade”, elogia a professora Marlene. 

Durante a defesa da tese, a aluna explicou o objetivo do trabalho e, em seguida, a banca examinadora realizou algumas considerações. Neste momento, Eliane contou com a ajuda da interprete de libras da UFMS, Michele Mussato.

ACADÊMICA

Eliane Francisca é natural de Nova Andradina e formada em Letras pela UEMS. Reside em Três Lagoas desde 2013, quando foi aprovada no programa de bolsas para mestrado. No mesmo ano começou a trabalhar como professora mediadora de libras (intérprete) em uma escola da rede municipal de ensino no período vespertino, e de manhã e a noite, como professora de língua portuguesa no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Para a mestranda, a maior dificuldade para a concretização do trabalho foi o domínio da norma culta da língua portuguesa.