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Popular entre os jovens, cigarro eletrônico é mais sociável e prejudicial

Cardiologista, Vitor Hugo Cavallini atende no Centro de Especialidades Médicas - Reprodução/TVC HD
Cardiologista, Vitor Hugo Cavallini atende no Centro de Especialidades Médicas - Reprodução/TVC HD

Lobo em pele de cordeiro. Seria esta a definição para o “queridinho” dos jovens e até mesmo dos adolescentes: o cigarro eletrônico. O produto guarda mais prejuízos do que aparenta. Ele é discreto, com cheiro agradável e que pode ser utilizado na roda entre amigos.

O dispositivo virou moda e parece ser mais sociável e menos prejudicial que o cigarro comum. Mas só parece, como explica o médico cardiologista Vitor Hugo Cavallini. São diversas as nomenclaturas de um produto que se iguala ao final e são classificados como DEF – sigla de Dispositivos Eletrônicos para Fumar. Justamente, por isso, se assemelham. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o fumante brasileiro consome, em média, 17 cigarros “convencionais” por dia. Na comparação, o cigarro eletrônico possui uma taxa de nicotina no organismo equivalente ao consumo de mais de 20 cigarros.

Segundo o relatório Covitel, um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. O índice é de 10% entre os homens, contra 4,8% das mulheres que já experimentaram. Com um detalhe: a região que mais fuma cigarros eletrônicos é justamente onde Mato Grosso do Sul está, o Centro-Oeste, onde 11,2% da população admitiu fazer uso do cigarro eletrônico.

Para piorar, além do prejuízo à saúde de quem fuma, a venda do produto não é legalizada no Brasil. Em julho deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu manter a proibição da venda de cigarros eletrônicos no país, mas ainda não concluiu a elaboração de uma norma. É justamente por falta de uma regulamentação que determina quais são os órgãos fiscalizadores e as penalidades para os comerciantes que forem flagrados descumprindo a decisão que o produto continua sendo vendido. O cigarro eletrônico é facilmente encontrado no comércio de Três Lagoas. Dois estabelecimentos que comercializam o produto foram flagrados por uma câmera oculta da equipe de reportagem da emissora TVC HD.

A reportagem questionou o Procon e a Vigilância Sanitária sobre este tipo de denúncia. Os órgãos informaram que não há registro de denúncia e nem de apreensão já que a prática não é regulamentada, apesar de proibida.

O médico cardiologista destaca que debater sobre o combate ao tabagismo é ainda mais importante neste mês, com a campanha Agosto Branco, em prevenção ao câncer de pulmão.

É verdade ou mito que o cigarro eletrônico é mais prejudicial que o cigarro convencional?
Vitor Hugo É verdade. O cigarro eletrônico possui alguns componentes que junto com o metal ele se quebram em nosso organismo e atravessam os nossos alvéolos pulmonares chegando na corrente sanguínea. Com isso, provoca um processo inflamatório muito grande. Podendo alterar a parede das artérias coronárias e das artérias do cerébro fazendo uma lesão endotelial até desencadear um processo de aterosclerose, que é a formação de placas nessas coronárias e em todo sistema vascular. Com tudo isso, ele é muito mais maléfico do que o cigarro convencial e o narguilé.

O cigarro eletrônico “explodiu” na pandemia com a justificativa de que é mais higiênico porque não há o compartilhamento, diferente do narguilé. Isso legitima seu uso? 
Vitor Hugo De forma alguma. Nenhum tipo de tabaco é saudável ou recomendável. Todos os cigarros devem ser combatidos. Não haver o compartilhamento não isenta todos os malefícios que o produto possui. O cigarro eletrônico continua contendo substâncias como a do cigarro convencional, incluindo a nicotina. O cigarro eletrônico é muito maléfico principalmente para a saúde cardiovascular do indivíduo.

O cigarro eletrônico é uma moda entre os adolescentes e jovens. O que o torna tão atrativo e sociável? 
Vitor Hugo Ele é discreto, cabe no bolso, na palma da mão. Além do que, você pode usá-lo em ambientes fechados, diferentemente do cigarro tradicional. Ou seja, não precisa sair do cômodo para fumar por conta da fumaça ou do cheiro. O cigarro eletrônico dispensa até o isqueiro. O cheiro é mais agradável e isso também é preocupante porque algumas essências aromáticas são maléficas. Você passa a usá-lo com mais frequência ao longo do dia, e o consumo diário é muito maior. 

A medicina já espera que pacientes mais jovens – fumantes de cigarro eletrônico – possam ir aos consultórios médicos com queixas cardiológicas que, geralmente, seriam problemas de fumantes mais velhos? 
Vitor Hugo Sim. Tanto é que há um estudo feito nos Estados Unidos que confirma sua pergunta. Para esta pesquisa foram reunidos pacientes de até 34 anos e foi comprovado que eles desencadearam doenças cardiovasculares. Foi acompanhado também o nível de colesterol LDL, que é o colesterol ruim que nós temos no nosso organismo,  e a pesquisa apontou que entre os fumantes de cigarro eletrônico este tipo de colesterol aumentou muito no sistema circulatório evidenciando maior quantidade de placas e de gorduras nas nossas artérias.

A frequência de pacientes mais jovens com problemas cardiovasculares semelhantes ao de fumantes na faixa etária dos 50 a 70 anos tem aumentado?
Vitor Hugo Já sim. Ainda não há uma frequência muita alta, mas eu já atendi pacientes com algumas alterações de pressão  e de colesterol e que podem estar associados ao uso do cigarro eletrônico. 

O cigrro eletrônico causa dependência assim como o cigarro convencional? 
Vitor Hugo
Causa. Mesmo porque ele possui nicotina e possibilidade de estar usufruindo dele [o cigarro eletrônico] é muito boa e elevada. Além do que citei, o fato de ser usado mais vezes ao longo do dia na comparação com o cigarro tradicional, pode acelerar a dependência e os prejuízos à saúde cardiovascular.

Além da dependência que a nicotina causa no indivíduo,  de que outra forma ela pode ser prejudicial? 
Vitor Hugo
A nicotina em si, em nosso organismo, se quebra e forma outras substâncias que vão para o pulmão afetando a nossa troca gasosa. Isso significa que o gás carbônico, o CO2, não se transforma em oxigênio que faz com que respiramos naturalmente.  Se há nicotina no organismo, haverá a dificuldade deste trabalho e, com isso, a dificuldade respiratória. Com o cigarro eletrônico ocorre o mesmo. A nicotina ultrapassa os alvéolos pulmonares e além de prejudicá-los, prejudica ainda o sistema circulatório também na nossa corrente sanguínea.