Veículos de Comunicação

Três Lagoas

Projeto de incentivo a leitura atinge camadas populares

Desde 2007 a escola do bairro São João recebe o projeto Mães, Crianças e Livros

A tarde de ontem foi mais um dia de contar histórias na Escola Municipal São João. Muito mais do que ler, o Projeto Mães, Crianças e Livros trouxe à comunidade do bairro uma oportunidade integração e familiarização ao mundo das letras e também dos números. Uma maneira ampla de conhecimento que se refere ao ver e ouvir. Uma vez ao mês, as mães dos alunos se reúnem com os filhos para uma tarde repleta de conhecimentos.

Em todos os encontros a literatura e a troca de conhecimentos é peça fundamental para dar andamento ao projeto. Com o foco principal sendo as mães, as coordenadoras resolveram investir justamente nelas, que são exemplos aos filhos. “Quando uma mãe tem o hábito da leitura, geralmente o filho cria o mesmo. Os exemplos vêm de casa e é por isso que focamos nelas”, explica.

Mães, Crianças e Livros é um projeto de extensão – Proext, coordenado pelas professoras doutoras, Ana Lúcia Espíndola e Neusa Maria Marques de Souza, e conta com o apoio de cinco alunos do curso de pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que são bolsistas de iniciação científica. Eles trabalham os livros de literatura infantil e montam as apresentações. De acordo com Ana Lúcia, mesmo trabalhando com o data show é possível se ater a ideia da leitura. “Trabalhamos em um formato dinâmico de apresentações com o datashow. Como as mães são incentivadas, as crianças começam a vê-las manipulando livros e aos poucos o interesse começa a aparecer”.

O projeto começou pequeno, com poucos títulos. “Em 2007 não tínhamos um grande acervo, mas aos poucos fomos adquirindo. O sistema de projetar as imagens dos livros chama atenção. O nosso foco está nas mães, elas precisam ser leitoras para dar exemplo aos filhos. Como elas passam a ler para os filhos começam a descobrir o prazer da leitura”, comenta Ana Lúcia.

O projeto vai muito mais além e até livro em inglês a turma já passou para a comunidade. A professora doutora, Neusa de Souza explica que é possível trabalhar matemática por meio da leitura, assim como o inglês. “Mesmo que eles não dominem a língua conseguimos o resultado. Eles fazem uma associação entre as figuras e as palavras que já conhecem e o resultado é fantástico. Trabalhamos a inserção social através da matemática como uma ferramenta de ação social, com textos narrativos sobre conceitos matemáticos.

Temos tempo também para trabalhos práticos, como dobraduras e assim estudamos geometria. Tentamos ligar uma coisa a outra”, ressalta a professora.

Além de ler, o grupo também se preocupa em acrescentar mais informações. Na tarde de ontem a história do livro falava sobre o tempo. Como acréscimo os alunos apresentaram os vários tipos de relógio e finalizaram com uma pequena redação das mães contando como se imaginam daqui a muitos anos.

Para o acadêmico do 4º ano de Pedagogia, Klinger Ceríaco, o projeto beneficia comunidade e universidade. “É uma soma. As mães aprendem, as crianças passam a se interessar ainda mais e nós atuamos. É graças a este trabalho que consegui passar no mestrado na Unesp. Temos sempre retorno, e o nosso maior é ver a integração familia – escola”.

INICIATIVA

Tudo começou com um pedido de ajuda feito pela Escola Municipal São João que estava com 60 crianças em vias de reprovação. “Eles procuraram a Universidade e colocaram o problema. Disseram que precisavam de ajuda em alfabetização e matemática. Foi quando criamos o projeto e convidamos os s alunos da pedagogia para vivenciar uma experiência entre teoria e prática”, comentou Neuza.

No inicio do projeto, o encontro acontecia semanalmente, depois passaram a ser quinzenais e atualmente eles acontecem uma vez ao mês. “Realizamos o trabalho às sextas-feiras, das 15h às 17h. Ao longo do projeto foram mais de 20 livros e inúmeros encontros”.

O projeto recebe o apoio do PIBIC, CNPQ, MEC E FUNDECT.


EXEMPLO

A professora Ana Lúcia diz que a mudança que acontece nas famílias é grande. “Parece que interferimos positivamente em várias áreas. Certa vez ouvi uma mãe dizer que não tinha ideia de que podia dar um livro de presente ao filho. Fiquei surpresa com o comentário, mas também feliz, pois aos poucos vemos estas realidades serem transformadas. Estamos analisando os hábitos das camadas populares, muitas mães não liam. No começo elas falavam que tinham dificuldade, mas melhoram seu desempenho e consequentemente o das crianças também aumentou”.

Élida Tiburcio da Silva Souza, mãe de Ana Gabriela, frequenta o projeto desde o começo. Segundo ela, a leitura sempre esteve presente em sua casa, mas se intensificou depois que passou a ir à escola para assistir as aulas. “Acho muito importante ter essa tarde. Ao longo dos anos vi minhas filhas se interessarem mais pela leitura. Elas desenvolveram na escrita e eu passei a ler mais. Agora nem preciso cobrar, elas procuram os livros sozinhas e tomaram gosto”, contou.