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Três Lagoas

Realidade que muita gente não vê

Sob a linha de pobreza, a família de Agmar e Raquel sobrevive com os R$ 102 que recebe do Programa Bolsa Família

Rua Almirante Barrozo, sem número, bairro Vila Nova. “É lá que moro com a minha família. Num barraco simples, atrás das Sementes Noel”. Foi assim que Agmar Alves da Silva, 27 anos, indicou o endereço de sua casa, enquanto esperava pela esposa Raquel, 37 anos, grávida de cinco meses, que estava na Secretaria de Assistência Social fazendo o recadastramento do Programa Bolsa Família. No município, existem 3,6 mil famílias que recebem o benefício.

A renda familiar do casal se resume aos R$ 102 que recebem por manter os filhos Josieli, 11 anos e Jonathan, 5 anos, na escola.  Com exceção do menino, que teve que morar com a tia, justamente pela situação de miséria, a família sobrevive num barraco de lona azul, sem energia, água encanada e banheiro.
Situação de extrema pobreza. Eles vivem em um espaço apertado, onde o piso é a terra solta. A fumaça que sai de um fogão improvisado, em cima de uma mesa, mantido apenas com lenha, ajuda a compor o cenário de miséria, que poucas pessoas chegam a imaginar que exista em Três Lagoas.

No pequeno espaço a ‘casa’, que em um único cômodo comporta cozinha, banheiro e quartos, existe uma cama de casal sem colchão, onde dormem Raquel e Josieli. Agmar dorme no chão sobre dois colchões de solteiro, que de tão finos, mal parece um. Uma poltrona velha é usada como guarda-roupas e o fogão doado não tem serventia, já que é apenas uma carcaça, sem peças da boca, mangueira e botijão.

A alegria da casa são os dois cachorros, ‘Pequeno’ – que de pequeno não tem nada –  e o ‘Hussen’. Os dois parecem ser os habitantes mais felizes no ambiente insalubre, compartilhando os mesmos alimentos que saciam a fome da família.

No almoço, o prato do dia é doado pelos vizinhos. “Hoje temos arroz e abobrinha com retalhos (carne). Eu tenho esses retalhos porque todos os dias o vizinho me dá. Nosso café da manhã é um chá e pão seco, quanto tem”.

SEM ENERGIA E ÁGUA

O cômodo em que moram é tão precário que nem sanitários possui. “Nós usamos aquele tapete ali, é naquele lugarzinho que a gente toma banho”, aponta Raquel.

O tapete a que se refere é de um carro, já está rasgado e fica ao lado da cama, próximo à lona. Quando perguntados sobre a questão do banheiro eles dizem usar o da Sementes Noel. “Ele deixa a gente usar o banheiro”, comenta.

A água também vem de favor e é doada pelos vizinhos. Raquel explica que todos os dias pega água na casa do pastor. “Eu vou lá pegar a água para lavar as roupas, beber e tomar banho”.

Com R$ 102 a família passa o mês. “A gente recebeu uma cesta básica da Assistência Social, mas não é sempre que essa ajuda vem”. A família explica que além do bolsa família a única renda que existe vem de ‘bicos’. Agmar comenta que ele e a esposa carpem lotes, mas que nem sempre há trabalho. “A gente de vez em quando pega um quintal para carpir. Ai pega o dinheiro, vai ao mercado e compra o que as crianças querem”.

O casal diz que não sai para trabalhar. “As pessoas nos conhecem e quando tem um quintal para carpir eles vem chamar a gente”. A média de valores é de R$ 50 a R$ 80 para carpir um lote. Eles explicam que não é toda semana que a oportunidade aparece e que gastam de três a quatro horas carpindo.

Raquel conta que o filho Jonathan, devido a falta de espaço, mora com a tia. “Ele mora aqui pertinho. Tivemos que deixar ele ir morar lá, senão o Conselho Tutelar ia mandar ele para o Poço Jacó”.

SONHO

“Meu sonho é ter minha casa, toda arrumadinha. Sabe como é, né? Sou mulher. Queria ter tudo bonitinho”, revela Raquel. Quando questionada sobre como se imaginava daqui há 10 anos, ela foi vaga. “Eu não consigo me imaginar. Só queria ter a minha própria casa”. A garota Josieli, bastante tímida, reforça também que esse é o seu principal sonho, além de ser professora.

A casa da família está num terreno e eles desconhecem o dono. “Há oito meses estamos aqui. Nos morávamos ali do lado, mas o pastor pediu pra gente sair porque ele ia construir. Ai viemos pra cá, inclusive essa lona foi o pagamento que o pastor nos deu por carpir o lote”.

Eles explicam que sem ajuda tudo seria pior.  “Se não tivéssemos ajuda seria muito mais difícil. Quando acaba o dinheiro e a comida saímos pedindo ajuda para os vizinhos, tem vezes que nem comida a gente têm. Hoje cedo quando vieram trazer a cesta básica nos disseram para fazer a inscrição para conseguirmos uma casinha”.

A família não possui telefone para contato, mas uma vizinha se dispôs a ceder o número de telefone caso alguém queira ajudar a família. Quem tiver alguma contribuição pode ligar para o 9226-4028 (Maria Lopes).