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Sem ambulância: a rotina de pacientes críticos na Capital

População não tem acesso ao transporte especializado e enfrenta dificuldades para levar os pacientes à consultas e exames

Daniela e a filha em transporte improvisado - Foto:Ana Krasnievicz/CBN-CG
Daniela e a filha em transporte improvisado - Foto:Ana Krasnievicz/CBN-CG

Enquanto a Prefeitura de Campo Grande anuncia a ampliação do número de ambulâncias para transporte sanitário eletivo de pacientes, quem precisa do serviço não consegue ou nunca ouviu falar do atendimento.

O serviço é voltado para quem necessita se deslocar para exames, consultas ou procedimentos, e não pode fazer isso em um veículo convencional, como é o caso de pacientes que recebem o atendimento home care pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A informação divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) é de que o número de ambulâncias para transporte sanitário eletivo vai passar de 9 para 13 até o final do ano. A licitação para a compra de 4 novas ambulância já está em andamento.

Ainda segundo a Sesau, cerca de 100 pessoas são atendidas por esse serviço, atualmente, em Campo Grande. A nossa reportagem tentou localizar alguns desses pacientes, mas sem sucesso. A prefeitura não informou quem são essas pessoas atendidas e nem mesmo quando e onde as ambulâncias estavam em trabalho.

O serviço de ambulância para transporte sanitário eletivo é alvo de críticas. Constatamos que algumas famílias já tentaram o atendimento, mas desistiram por falta de informação ou de falhas na gestão do serviço.

É o caso de Gilsonete Braga, mãe da Kiara, de 9 anos de idade. A menina tem paralisia cerebral e, devido ao quadro delicado, faz uso de respirador e ventilação mecânica. Toda vez que precisa deslocar Kiara para fazer algum procedimento, a família enfrenta dificuldades com o transporte do SUS, pois a paciente precisa ficar em uma maca.

“Eu tentei, mas a consulta dela era meio dia, eles queriam nos deixar aqui no hospital três horas antes. Ela tem luxação no quadril, não pode ficar tanto tempo na cadeira. E o atendimento no hospital atrasa. Não sei que horas serei atendida. Então, pra mim, não ajuda”, reclama Gilsonete.

Se, de um lado, quem conhece o serviço reclama e desiste, de outro, tem paciente em sistema de home care pelo SUS que desconhece a oferta de ambulância especializada. Esse é o caso da Daniela da Silva, mãe da Alícia, de 15 anos de idade. A adolescente tem paralisia cerebral grave e quadro de desnutrição. Ela também faz uso de respirador e ventilação mecânica.

Com frequência, Alícia precisa ser deslocada para consultas e exames em uma unidade hospitalar. Mesmo sem condições de transportar a filha e de sinalizar essa realidade à equipe de home care da Sesau, Daniela nunca foi informada sobre a existência do serviço.

“Não só eu como várias famílias, né?! Temos atendimento domiciliar do SUS, e nunca fomos informadas. Não sabíamos que tem ambulância que fornece esse transporte”, diz indignada.

Daniela conta ainda que aciona o serviço de motorista por aplicativo quando precisa levar a filha para consultas e exames. Mas não é um transporte simples, afinal, além da cadeira de rodas, a jovem está conectada aos aparelhos de ventilação mecânica e ao cilindro de oxigênio.

“Eu tenho que fazer tudo sozinha, então eu peço autorização para o motorista pra levar ela na frente, como todos os aparelhos. Então pra mim é muito difícil, né?! E se tivesse uma ambulância seria muito mais fácil”, relata.

Para levar a filha em um carro comum, Daniela acondiciona os equipamentos em bolsas e acomoda a filha no banco da frente do carro. Já ela faz o percurso no banco de trás, sem cinto de segurança, para segurar a filha.

Nossa reportagem acompanhou uma dessas viagens até o Hospital Universitário, na Capital, onde Alícia estava com consulta marcada com um gastropediatra. O trecho de sete quilômetros, de casa até o hospital, expõe mãe filha a riscos de acidentes.

A Secretaria de Saúde de Campo grande afirmou que o serviço de transporte sanitário por ambulâncias atende cerca de 90 pacientes, entre eles de tratamentos como reabilitação, hemodiálise e quimioterapia. E que é necessário solicitar o atendimento com, pelo menos, 72h de antecedência. Para solicitar o atendimento o paciente deve procurar a Unidade básica de saúde ou diretamente a Sesau.

Assista abaixo à reportagem completa:

NOTA DA PREFEITURA

"A Sesau informa que atualmente o serviço sanitário de transporte eletivo atende a aproximadamente 90 pacientes que fazem uso constante do serviço – como tratamentos de reabilitação, hemodiálise e quimioterapia- e realizou, somente no primeiro semestre deste ano, mais de 100 transportes ocasionais, que é quando o paciente tem consulta ou realização de exame e não tem condições de locomoção por meios próprios. Para este último caso, é necessário solicitar o atendimento com pelo menos 72h de antecedência, assim a equipe conseguirá se organizar em tempo hábil para atender ao paciente. 

O serviço conta hoje com uma fila de espera que deve ser significativamente reduzida com a chegada de nove novos veículos para o serviço até o final deste ano. Este transporte é disponibilizado aos pacientes que fazem tratamento contínuo e possuem dificuldades locomotoras ou que são acamados e, por isso,  não conseguem sair de suas casas por conta própria."