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Três Lagoas

Shopping Center é bem vindo para TL, diz comerciante

A afirmação é do antigo comerciante, Walckir Bernardes, da Mônica Calçados

O entrevistado do Jornal do Povo desta semana é o comerciante Walckir Bernardes, nascido no interior de São Paulo, e em Três Lagoas desde 1966, quando era vendedor de uma grande empresa do comércio, em Paranaíba. Em seguida, foi transferido por essa mesma empresa para Três Lagoas, também como vendedor e, em 1975, se estabeleceu comercialmente, abrindo a tradicional loja “Mônica Calçados”, na esquina das ruas João Carrato com Bruno Garcia, onde permanece até hoje, após várias transformações do visual da loja.

Na Associação Comercial e Empresarial (ACE) de Três Lagoas, Walckir Bernardes sempre ocupou cargos de destaque em várias diretorias. Há mais de 15 anos, é presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Três Lagoas (patronal) e atualmente é também tesoureiro da Federação Estadual do Comércio (Fecomércio), presidida pelo três-lagoense, Hilário Pistori.
Na entrevista, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista falou da evolução do comércio na Cidade, o desenvolvimento urbano, iniciado com a construção da barragem da Usina de Jupiá e agora com a construção do complexo industrial da VCP e IP.

Walquir Bernardes também desmente o que muitos erroneamente pensavam de que os antigos comerciantes, estabelecidos em Três Lagoas, seriam radicalmente contrários à vinda de um grande shopping center para Três Lagoas. Não é verdade porque, eles não são “contrários ao desenvolvimento da Cidade”. No entanto, Walquir faz uma importante ressalva: “Somos a favor da vinda de um grande shoping center, mas que venha com uma ou duas grandes lojas, como âncoras”, observou. Do contrário, segundo ele, “teremos um aglomerado de pequenas lojas, pagando caro, para nada vender”, completou.

JP: Sabemos que o senhor nasceu numa pequena cidade do interior paulista. Como veio parar no Mato Grosso do Sul e a se estabelecer em Três Lagoas?

Walquir: Comecei como vendedor de uma grande empresa, em Paranaíba, em 1966. Logo em seguida, eles me transferiram para Três Lagoas, também como vendedor. Em 1975, decidi trabalhar por conta própria e abri a loja Mônica Calçados, aqui no centro, onde permaneço até hoje, contando com o apoio da minha esposa e das minhas filhas.

JP: Como era a Cidade naquela época, em que o senhor se estabeleceu no comércio?

Walquir: Peguei o início de uma boa fase do crescimento do comércio de Três Lagoas. Cheguei aqui no início da construção da barragem de Jupiá. Apesar da Camargo Corrêa ter construído uma pequena cidade para os operários, onde hoje é a Vila Piloto, onde tinha quase de tudo para comprar e vender, o comércio de Três Lagoas teve um ótimo aquecimento de vendas, naquela época. Desde aquele tempo, Três Lagoas começou a ser vista como o promissor Eldorado de Mato Grosso do Sul.

JP: Qual a diferença da construção da Usina de Jupiá com o momento histórico de crescimento que passamos recentemente com a construção do complexo industrial das fábricas de celulose e papel?

Walquir: São duas situações bem diferentes. O movimento no comércio aumentou bem mais agora, quando mais de 10 mil trabalhadores circulavam diariamente pela Cidade e compravam no comércio local. Quando terminou a construção da barragem de Jupiá, a usina ficou aqui, mas os trabalhadores foram todos embora para outras obras. Ficaram apenas alguns barrageiros, que aqui constituíram família, aqui permanecem e muito têm contribuído também para o crescimento da Cidade. Com a construção da VCP e IP a coisa está sendo diferente. A obra terminou, as fábricas estão aqui e continuam agregando várias outras empresas, de transporte, segurança e outras de prestação de serviços, que eu não sei quantas. É um leque de empresas de bom tamanho. Essas empresas se estabeleceram em Três Lagoas, geradoras de empregos e renda, por causa da VCP e da IP. Isso tem sido bom para o comércio. As oportunidades continuam a aparecer.

JP: O senhor acredita que o comércio aproveitou bem essa histórica oportunidade?

Walquir: Como na construção da barragem de Jupiá e agora, apareceram alguns aventureiros, despreparados, que acabaram tendo que fechar logo o seu negócio. Alguns, aqueles que enxergam bem e que têm visão empreendedora, se deram bem e aproveitaram a boa fase que Três Lagoas já viveu e que ainda continua vivendo, mas sem aquela euforia. Infelizmente, em alguns setores do comércio, se perderam muitas oportunidades de ganhar dinheiro. Em outras, houve uma euforia descontrolada, que acabou dando em nada. Mas Três Lagoas continua sendo o Eldorado para muita gente. Mas hoje, é necessário cautela, porque a euforia acabou e vai sobreviver aquele que melhor estiver preparado e se manter sempre atualizado.

JP: Como era o comércio, quando o senhor se estabeleceu e como o vê agora?

Walquir: Tudo mudou muito rápido. O aumento da população exigiu também mudanças no comportamento das pessoas. Até há bem pouco tempo, hoje ainda continua um pouco, o comerciante conhecia todos os fregueses pelo nome. Entrava alguém na loja, a gente sabia a que família pertencia. Não precisava a gente pesquisar no SPC (Sociedade Protetora do Crédito) se tinha nome sujo. Hoje temos que tomar todas as cautelas e ainda assim sofremos calotes. Bastava a pessoa comprar e tinha vezes que nem marcávamos nada, nem era necessário assinar nada. Eles só falavam: “coloca na conta” e chegava o fim do mês a gente recebia sem precisar ir atrás. Hoje tem cartão de crédito, cheque pré-datado e tudo o mais.

JP: Qual o conselho que o senhor daria a quem pretende se estabelecer hoje no comércio de Três Lagoas?

Walckir: Não sou a pessoa mais indicada para dar conselhos. Para isso existe o Sebrae, o Senac e outros comerciantes mais bem sucedidos que eu. No entanto, arrisco a dizer apenas uma coisa: Seja sincero e honesto com o cliente. Como se dizia antigamente e ainda hoje vale: “a gente não precisa do freguês uma vez só”. Hoje, muita coisa influencia no sucesso dos negócios, principalmente no comércio. Além do bom atendimento, o preço e a qualidade dos produtos, porque o consumidor está mais exigente e tem direitos. Tem ainda a atraente apresentação da loja. Nisso o comércio de Três Lagoas está mudando para melhor. Estamos começando a descobrir que também é importante o visual da loja e das vitrines. O freguês quer sentir-se bem na loja em que ele compra, quer ver, pegar, saber o que está comprando. Para isso, temos que nos adaptar e acompanhar a evolução.

JP: Qual é o principal problema que o comércio atravessa hoje?

Walquir: Existem vários tipos de problemas. Entre os principais está a falta de segurança, mesmo que muita coisa tenha melhorado, principalmente no aumento de policiais circulando pelas ruas do Centro. O pior de tudo isso é vermos que a maioria dos assaltos e roubos estão sendo praticados por adolescentes e jovens, que praticam o crime para sustentar o vício das drogas. Isto é muito triste de se ver. Alguém tem que fazer alguma coisa.
Uma outra questão é falta de qualificação profissional. Infelizmente, os melhores vendedores acabam aprendendo nas pequenas lojas do comércio, que servem de primeira escola. Eu mesmo já tive gente que aqui começou sem nada saber e que hoje são excelentes vendedores em grandes lojas e magazines. Saíram em busca de novas e melhores oportunidades. A capacitação profissional sempre foi um sério problema em Três Lagoas. A situação tem melhorado, mas não é suficiente. Fico feliz quando tomo conhecimento de novos cursos profissionais que surgem e são oferecidos até gratuitamente pelo Senac e pelo Senai. Precisamos de cursos que atendam também às necessidades do comércio local. Felizmente, isso já está acontecendo. O freguês quer ser bem atendido e por gente que entenda e conheça o produto que está vendendo.

JP: Três Lagoas está preparada para se tornar importante pólo regional do comércio?

Walckir: Três Lagoas, há anos, é olhada como o “Eldorado” do progresso. As perspectivas de crescimento são boas e não param. O comércio tem chances de acompanhar o promissor desenvolvimento industrial. Os empresários do comércio precisam acreditar nisso e investir em seus negócios para não ficarem para trás. Eu acredito que Três Lagoas não mais irá parar de crescer. Precisamos nos preparar. A Cidade precisa se preparar para o crescimento. Muita coisa ainda precisa melhorar.

JP: O que precisa melhorar na Cidade para acompanhar esse crescimento?

Walckir: Muita coisa já foi feita e está sendo feita pela atual administração da prefeita Simone Tebet. A cidade está mais limpa, mais bonita e tem mais asfalto. Já falei da segurança, que precisa melhorar muito mais, para que a gente possa trabalhar mais tranquilamente e seguro. Isso influencia muito. Temos os problemas de enchentes, mas isso não é de agora. Sei que isso não se pode resolver da noite para o dia. A questão da drenagem das águas pluviais é um problema que exigiria muito dinheiro para ser resolvido. A topografia urbana de Três Lagoas não ajuda e as águas da chuva demoram para escoar. Isso não é culpa da atual administração, mas exigem o estudo de um projeto sério e caro para executar.

JP: Existe uma questão, relacionada ao comércio que muito intriga a população. É verdade que os antigos comerciantes de Três Lagoas têm criado obstáculos para a vinda de um shopping center?

Walckir: Não é verdade e nunca houve essa manifestação. Se alguns pensam isso, estão errados. Todos os comerciantes, em especial os mais antigos, são a favor do crescimento de Três Lagoas. O que nós temos conversado, quando temos essa oportunidade, é que venha um shopping, mas que tenha, ao menos, uma ou duas grandes lojas, que eles chamam de âncora. Se não tiver isso, não vale a pena. Teremos apenas um aglomerado de pequenas lojas, que pagam caro para estar no shopping, mas que nada vendem. Isso não é bom e iria piorar ainda mais o comércio local. Se o  shopping for forte, tiver uma ou mais lojas fortes de âncora, todo o comércio ganha com isso, porque atrai muita gente daqui e de fora.