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Entrevista

'Tecnologia nos deixa dependentes'

Ter agilidade e resultados lógicos rende maior produtividade, mas afeta a concentração, o aprendizado e altera hábitos

Um estudo feito com alunos da Universidade de Princeton, de Nova Jersey (EUA), e publicado pela revista Phychological Science, indica que tomar notas no papel é melhor para a memorização de conceitos do que o ato de digitar. Segundo os pesquisadores, uma das possíveis explicações para isso é que as pessoas que anotam à mão prestam mais atenção às informações, enquanto as que usam o computador acabam por tentar anotar literalmente tudo o que está sendo dito, sem se ater ao conceito ou sem entender o que está sendo discutido. Outra vantagem dos profissionais analógicos é que cultivar o hábito da escrita faz bem para desenvolver a concentração, a criatividade, além de aumentar a tranquilidade e diminuir os índices de estresse. Seria o contraponto dos avanços da tecnologia? A especialista em recrutamento e seleção para as áreas tecnológicas, Marina Brandão, cita a criação de dependência de profissionais de diversas áreas com as "facilidades" dos ambientes tecnológicos.

Jornal do Povo – A revolução digital está transformando nossas vidas de maneira sistêmica?
Marina Brandão – A tecnologia está inserida tanto no ambiente profissional quanto em nossos comportamentos e hábitos sociais, e não há dúvidas de que ela está influenciando nossas vidas de maneira positiva. Seja facilitando os processos do dia a dia, aproximando as pessoas, mudando o jeito como nos comunicamos, aumentando o acesso à informação ou transformando nosso relacionamento com o dinheiro. 

JP – E isto está mudando a vida das pessoas, seus hábitos?
Marina – O fato é que a tecnologia revolucionou a maneira como vivemos e trabalhamos. Ela  substituiu grande parte dos processos analógicos por digitais, diluiu as barreiras físicas e permitiu que estivéssemos disponíveis full time para o trabalho, tornando possível transformar qualquer dispositivo conectado à internet em nossa mesa de trabalho ou sala de reunião. Segundo a Associação Americana de Psicologia, 53% dos americanos trabalham no fim de semana, 52% fora das horas de trabalho designadas e 54% trabalham mesmo quando estão doentes.

JP – Todas as pessoas aceitam mudanças da mesma maneira ou há os que preferem modos antigos e resistem?
Marina – Mesmo a revolução digital sendo algo inerente à nossa época, alguns profissionais são resistentes às mudanças. Desde abandonar o papel para fazer anotação e impressões de documentos, até uma dificuldade em marcar reuniões por vídeo conferência. Apesar de parecer pura teimosia será que opor-se a algumas dessas tendências é algo ruim?

JP – Com os avanços de comunicação, mais ágil, instantânea, os profissionais se tornam melhores em termos de resultado. Mas, também, mais dependentes?
Marina – É inegável que a tecnologia a e conexão full time facilitou os processos de trabalho e em alguns casos aumentou nossa produtividade, mas também fez com que desenvolvêssemos uma grande dependência das tecnologias digitais. A chamada "nomofobia", ou – o pavor de ficar sem celular – é uma das consequências dessa nossa dependência. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos com usuários de celulares Android apontou que checamos as atualizações do smartphone, em média, 2.617 vezes ao dia e gastamos algo em torno de 2 horas e 25 minutos no aparelho no mesmo período.