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Transtornos alimentares podem desencadear vários problemas

Dietas alimentares muito restritivas podem causar disfunções no corpo humano, podendo afetar até a saúde mental

Em entrevista, psicóloga destaca sobre a relação da saúde mental e os transtornos alimentares. - Duda Schindler/CBN
Em entrevista, psicóloga destaca sobre a relação da saúde mental e os transtornos alimentares. - Duda Schindler/CBN

A expressão “a saúde começa pela boca”, tem alcançado cada vez mais destaque nos últimos anos devido à necessidade de promover escolhas alimentares mais saudáveis, mas também garantir a própria saúde mental. Em entrevista ao Jornal CBN Campo Grande, a psicóloga Renata Romeiro frisou que, “nem toda dieta leva a um transtorno alimentar, mas um transtorno alimentar pode ser levado por uma dieta restritiva”. Durante a conversa, ela esclareceu vários aspectos que envolvem o tema e também falou sobre o 1º Simpósio “ Compreendendo a relação entre transtornos alimentares, obesidade e saúde mental”. O evento será realizado em Campo Grande de 30 de setembro a 1º de outubro, aberto ao público no primeiro dia, e específico para profissionais da área o dia seguinte.

Quais seriam os principais transtornos alimentares? O que podemos destacar? 
Renata Romeiro – Uma coisa importante para dizer é que obesidade não é um transtorno alimentar. A obesidade é uma doença multifatorial. Agora, quem tem obesidade pode ter também um transtorno alimentar.  Não necessariamente é obrigatório ter obesidade e já na sequência um transtorno alimentar. E quando a gente fala dos transtornos alimentares, a gente tá falando aqui da anorexia, da bulimia,  da compulsão alimentar. O que é a anorexia? É quando a pessoa restringe por completo a alimentação, até porque tem uma visão distorcida de si. Na bulimia, acaba tendo alguns episódios compulsivos e ela faz algo para tentar compensar. O mais comum que a gente conhece são aquelas pessoas que provocam vômito,  mas não necessariamente é apenas isso. Pode ser um exercício físico em excesso. A pessoa malha desesperadamente, só que antes ela teve um episódio de compulsão alimentar. E tem a compulsão alimentar, em que não vai ter nada para compensar  esse comer em excesso. Então, tem essa diferenciação.  

Os excessos, tanto na alimentação, quanto nas preocupações têm um impacto generalizado na vida? 
Renata Romeiro – Sim. E é muito sofrido para quem tem transtorno alimentar. E leva-se muito tempo até a pessoa se dar conta de que ela tem um transtorno alimentar. Às vezes ela passa anos com aquele comportamento sem saber o que é isso, às vezes tem muita vergonha, não conta para as pessoas o que ela faz.  E geralmente alguém, algum amigo, algum familiar, percebe que tem algo errado  em relação até alimentação, e na relação de como se porta na vida com os amigos. Aí começa a trazer informações até para buscar um tratamento. Então, para chegar ao consultório e ir a procura de um tratamento, levam-se muitos anos.

Existe alguma alteração na saúde mental que possa levar  a estes transtornos alimentares?  Tem como identificar isso? 
Renata Romeiro – Sim, a gente vê muito presente em quadros como transtorno afetivo bipolar, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), depressão, ansiedade. E são quadros em que tem uma desregulação química do próprio organismo e que se propicia para o desenvolvimento de um transtorno alimentar. Porque existe até uma distorção da imagem corporal, ou até mesmo uma questão muito emocional envolvida.  Às vezes, a pessoa não sabe manejar o que está sentindo, não sabe manejar as emoções.

Os tratamentos medicamentosos de alguns tipos de transtornos mentais  podem ser obstáculos para este tratamento da obesidade? 
Renata Romeiro – Depende. Eu diria que não, porque se estiver com acompanhamento médico em dia terá prescrição das medicações  que são indicadas para aquele quadro com doses adequadas para o organismo dele. As medicações auxiliam muito nesse processo,  porque vem na regulação química do próprio organismo. 

As dietas restritivas podem levar a distúrbios alimentares?
Renata Romeiro – Nem toda dieta leva a um  transtorno alimentar, mas para quem tem predisposição  para um transtorno alimentar pode ocasionar sim. O que são dietas restritivas? São aquelas do ovo, que você só come ovo; dietas intermitentes; até dieta da lua existe – estou exagerando aqui. E aí a pessoa entra em uma privação, se eu comer aquilo preciso compensar de uma forma ou de outra. Nós não fomos programados para entrar em privação alimentar. Nosso organismo não foi “programado” para isso. E o que o nosso cérebro entende quando vem uma privação?  Que da próxima vez que comer, tenho que  fazer um estoque aqui, porque vai faltar comida.  Daqui a pouco, essa pessoa aqui vai me privar de novo. E aí, é algo sem controle.  Porque o controle do impulso é algo muito importante também. Ou seja, eu entro numa privação e o meu cérebro não consegue  controlar o impulso e com isso desencadeia mais um episódio de compulsão alimentar. Assim, o ciclo nunca termina. 

Cada vez as coisas vão ficando mais difíceis?
Renata Romeiro – Vão. E tem uma coisa que a gente fala é como se o nosso cérebro ficasse  inflamado com esse tipo de alimentação e se ele fica inflado fica mais difícil para ele ter o controle inibitório. Então, quando a gente pensa numa cirurgia bariátrica,  o que ele vai fazer? Ele vai reorganizar esse organismo. Inclusive nesse processo inflamatório também. Só que precisa ter um acompanhamento psicológico, até porque as situações da vida não vão mudar. Aquilo que me frustrava antes  vai continuar me frustrando.  

Ainda existe um pouco de preconceito das pessoas não quererem procurar psicológo? 
Renata Romeiro – Sim, é o que a gente chama de psicofobia, nesse caso é o estigma a respeito da saúde mental. Há muitos anos, quando a gente falava em psicólogo, em psiquiatra, existia uma grande resistência das pessoas. Impedindo, às vezes, que a pessoa deixasse de olhar para aspectos como um quadro de ansiedade, uma depressão. 

Para as pessoas que se encontram nessa situação, existe tratamento? 
Renata Romeiro – Tem tratamento para isso.  A gente não está falando aqui de algo  que não tem o que fazer.  O tratamento é multiprofissional, com endocrinologista, psiquiatra,  psicólogo, nutricionista,  educador físico. Não é um único profissional,  porque a gente está falando que a causa  é multifatorial. Logo, precisa ter um tratamento  multidisciplinar. O simpósio que irá acontecer na capital vem com essa intenção de trazer todos esses profissionais  que falam sobre transtorno alimentar e obesidade  para que a gente possa discutir  um pouco a respeito disso e trazer ensinamentos de como  isso processa no dia a dia. 

Quando será o evento? 
Renata Romeiro – O simpósio será nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, em Campo Grande. As inscrições podem ser feitas pelo instagram @gruponexoconsultoria ou no site: gruponexoconsultoria.com.br