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Três Lagoas

Violência nas escolas aparece em 2º lugar no ranking dos atos infracionais

Tráfico de drogas também influencia na violência dentro da comunidade escolar

Reféns do medo. Esta é a situação de muitos professores e alunos da rede pública de ensino em Três Lagoas. De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinted), Petrônio Alves Correa Filho, assim como acontece no restante do Brasil, a violência está aumentando cada vez mais dentro dos muros das escolas e, em muitas vezes, os professores é que são as vítimas.

“As ameaças são constantes. Tivemos casos de professores que sofreram até violência física. Os carros também são alvos dos alunos. Muitos já tiveram os pneus furados ou latarias de carros riscadas”, completou.

O sindicalista liga a violência dentro da sala de aula a vários fatores, entre eles, a degradação moral da sociedade, corrupção, ideologia capitalista. “Trata-se do ter, do poder. Eles [alunos] querem se impor. Para isto, agridem outros alunos, vistos como mais fracos, por exemplo”, completou.

E nesta tentativa de se impor, é que os professores são vistos como os inimigos. Para o adolescente, explica Correa, a figura do educador existe para atrapalhar. “Ele [adolescente] se nega a aceitar qualquer tipo de orientação. Se o professor pede um trabalho, o aluno se nega a fazer. Caso a nota seja baixa, o professor é logo ameaçado. Isto é freqüente”, disparou.

O sindicalista cita dois casos que aconteceram em Três Lagoas. No primeiro, uma professora ganhou na Justiça após ter sua imagem lançada na internet por alunos. O segundo caso foi quando um aluno ameaçou atear fogo nos cabelos de uma outra professora. Os nomes das profissionais e também as escolas em que trabalham foram preservados. “O clima é de medo. Já tivemos casos de alunos armados dentro das escolas. Ameaças a professores por telefone, pela internet, pessoalmente. Profissionais que abandonam as salas de aula emocionalmente abalados. E não estamos falando apenas de adolescentes, estamos falando de crianças também”, disparou.

Petrônio também optou por não citar nomes das escolas tidas como mais violentas, mas confirmou que a violência aumenta de acordo com a clientela e localização da escola.

RANKING

A situação é comprovada por meio de uma estimativa do Ministério Público Estadual. Segundo a promotoria da Criança e do Adolescente, das 1,3 mil ocorrências de crimes envolvendo adolescentes registradas de janeiro até julho, a violência nas escolas aparece em segundo lugar entre os principais crimes. Petrônio completa: “Eu te garanto que estes dados não correspondem a 20% da real situação das escolas”, disse. A triste previsão já havia sido comentada pelo promotor de Justiça, José Luiz Rodrigues. De acordo com ele, desde o começo do ano, a Promotoria registrou em torno de quatro casos de ameaças de alunos contra professores. “No entanto, muitos ficam calados, na maioria dos casos, por medo”, disse.

Promotor e sindicalista também concordam em relação à causa da violência.

“Boa parte das ocorrências são de brigas dentro e nas portas da escola.

Quando não se trata da questão do poder, de mostrar quem é o mais forte, trata-se do tráfico de drogas. O consumo e a venda de drogas dentro das escolas ainda existe. Ou, quando não, os alunos usam a escola para acertos de contas”, destacou, Rodrigues.

Já Petrônio lembrou de um fato antigo, que trouxe pânico à Cidade na década de 90: as gangues. Embora em um número e força reduzidas, mais uma vez, estes alunos estão se unindo em grupos, com o intuito de brigarem entre si. “As brigas podem até acontecer fora das escolas. Mas, é dentro das escolas, que eles se formam”, completou o sindicalista.

RESULTADO

As conseqüências são mais que preocupantes. Para Petrônio, a violência nas escolas interfere diretamente no rendimento escolar, seja pelo professor, que tem dificuldades de se fazer ouvir dentro da sala de aula, seja pelo medo daqueles alunos que realmente querem estudar. Hoje, não é incomum casos de alunos que pedem transferência para outras escolas por não suportar mais ameaças ou até mesmo agressões.

Por conta deste, e outros fatores, é que o tema “violência nas escolas” será um dos assuntos debatidos durante a Conferência Municipal de Educação, que inicia na segunda-feira (24). O assunto não estava previsto na pauta, mas, conforme Petrônio, “não há como ser deixado de lado”.