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Até onde dar liberdade a um filho?

Deixar o pequeno livre faz parte da conquista de sua independência

Quando um bebê nasce, surge também uma leoa. Diante daquele pequenino tão frágil, o primeiro impulso de uma mãe é cercá-lo, tentando afastar qualquer mal existente no mundo. Nos primeiros dias, você praticamente não o perde de vista – mesmo dormindo no quarto ao lado, você o vê pela babá eletrônica ou levanta para se certificar de que está respirando.

Depois, lentamente, vai conseguindo se afastar a distâncias progressivas: vai até a padaria, deixando-o sob os cuidados de outra pessoa; depois volta ao trabalho; até o dia em que viaja, sabendo que uma estrada (mesmo que curta) os separa fisicamente.

Ser mãe (ou pai) é também aprender a se distanciar – afinal, você cria o filho para o mundo e deseja, do fundo do coração, que ele saiba voar sozinho em segurança.

E como criar um filho independente, seguro, sem deixar que ele caminhe com as próprias pernas? Que leve seus tombos (mesmo que você esteja a poucos passos, para fazer o curativo)?

Acredito que um dos maiores desafios da maternidade/paternidade seja dar liberdade a um filho, sabendo que a partir de um ponto você não poderá protegê-lo de ameaças que sabemos existirem em nossa sociedade. E aí o coração dos pais fica apertado e é impossível deixar de avaliar se você está deixando que ele vá cedo demais.

Todas as vezes em que penso sobre esse assunto, chego à conclusão de que duas palavrinhas são mágicas para que esse processo ocorra da forma mais saudável possível: diálogo e respeito.

Manter um canal aberto para discutir qualquer questão é fundamental (principalmente aquelas que consideramos "cabeludas" – provavelmente as mesmas que um dia fizeram os rostos de nossos pais ficarem ruborizados); mas com todos sabendo que pais são pais, e filhos são filhos. Como já dizia minha mãe (e quanto mais vivo, mais concordo com ela): "enquanto viver debaixo da minha asa, respeitará as regras de convívio que eu estabeleci".

Digo isso porque vejo muitos pais se tornando "amigões". Na tentativa de manterem algum controle sobre as escolhas do filho (ou pelo menos saberem o que estão fazendo), acabam fazendo concessões que ferem seus próprios princípios. Esquecem-se de que exercer a autoridade faz parte de seu papel, e se anulam, sofrendo em silêncio. Faz parte da natureza de um filho testar os limites e tentar ampliá-los; e faz parte do dever de um pai afrouxar a corda, liberando-a quando percebe que há responsabilidade para o exercício da liberdade adquirida.

Para mim, pais devem ser amigos, não "amigões". Devem dar espaço, mas se fazendo presentes. Devem deixar que o filho vá, sabendo que construíram uma relação de confiança para que ele saiba que sempre pode voltar.